Um ex-agente das forças especiais acorda e percebe que revive o mesmo dia, morrendo de formas diferentes sempre que falha em antecipar os ataques. O objetivo imediato é simples e absoluto: sobreviver o suficiente para descobrir quem montou o laço temporal e como romper o ciclo. A partir desse ponto, “Mate ou Morra” apresenta um percurso de tentativas sucessivas em que cada morte adiciona um dado novo e cada sobrevivência alonga o tempo de investigação. Dirigido por Joe Carnahan, o filme tem Frank Grillo como Roy Pulver e conta ainda com Mel Gibson, Naomi Watts, Michelle Yeoh e Will Sasso. O conflito combina duas frentes simultâneas: escapar dos algozes que o caçam e colher informação bastante para entender a origem do dia repetido.
Logo nos primeiros reinícios, Roy percebe padrões de ataque e passa a tratar a manhã como campo de teste. Repara no horário em que um assassino chega, no trajeto mais exposto, nas saídas possíveis. Ao ajustar a rota, ganha segundos; com segundos, conquista minutos; com minutos, alcança locais onde não chegaria antes. Essa progressão factual dá forma ao arco do personagem. O avanço depende de escolhas verificáveis: mudar de rua, usar um objeto específico, abordar alguém em horário exato. Quando uma decisão dá errado, ele volta ao ponto de partida com a memória do erro. Quando dá certo, carrega a lição para a próxima rodada.
Mel Gibson interpreta o Coronel Clive Ventor, responsável pela operação que sustenta o laço temporal e pelo aparato bélico e científico que a protege. Naomi Watts vive Jemma Wells, cientista ligada ao projeto, e sua relação com Roy fornece motivação afetiva e informação técnica. Michelle Yeoh aparece como Dai Feng, cujo treinamento pontual amplia a eficiência do protagonista, enquanto Will Sasso integra o círculo de confiança do antagonista. Entre os inimigos recorrentes, Selina Lo encarna Guan Yin, assassina cuja presença comprime o tempo de reação de Roy e impõe precisão de movimentos em cada tentativa.
O laço temporal dá ao roteiro um motor claro. Cada manhã começa no mesmo apartamento, com perigos disparando quase em sequência. Roy tenta sair vivo de casa, atravessar a rua sem ser abatido, evitar um perseguidor mais habilidoso, alcançar um veículo, infiltrar-se em um prédio. Em uma rodada, investe em força e cai cedo; em outra, aposta em discrição e avança mais; em outra, usa contato pessoal para quebrar barreira burocrática. As escolhas nunca ficam no ar: um gesto altera a posição dos inimigos, um atraso muda a rota, uma conversa abre ou fecha portas. A história se sustenta nessa cadeia de causa e efeito.
A encenação destaca decisões que mudam informação. Câmera próxima durante um erro chama atenção para o detalhe ignorado. Corte repetido para a mesma esquina, alguns segundos antes, indica onde o protagonista precisa corrigir a abordagem. A música acelera quando o plano depende de timing e recua quando o momento pede observação para colher pista. Não é mero enfeite: trilha, enquadramento e montagem sinalizam o que importa em cada tentativa, comunicando ao público o que Roy aprendeu e o que ainda falta captar. Assim, o espectador acompanha a contabilidade do avanço, entendendo por que um passo funcionou e outro encurtou a vida útil daquele dia.
Os obstáculos não são apenas humanos. O próprio laço reduz recursos materiais e impõe limites logísticos. Não é possível acumular armamento pesado entre uma morte e outra, então Roy precisa selecionar itens práticos e rotas que dependam mais de sincronia do que de volume de fogo. Esse condicionamento transforma pequenos gestos em fatores decisivos: escolher uma chave, desligar um alarme, trocar de roupa no minuto exato. Em paralelo, cresce a pressão psicológica. Repetição desgasta, e o filme transforma cansaço em dado dramático quando o protagonista cogita desistir de ajustes finos e partir para soluções brutas que não resolvem a pergunta central.
A relação com Jemma Wells serve de ponte para o núcleo que detém a tecnologia do laço. Essa conexão altera a investigação, pois troca tentativa às cegas por hipótese plausível. Quando Roy decide testar um caminho que o aproxima de documentos e laboratórios, a narrativa muda de ritmo. Ele passa a buscar salas específicas, a interceptar conversas em horários fixos, a usar crachás que só aparecem em um ponto do dia. Cada vitória abre uma gaveta e revela outra tranca. O aumento do risco vem daí: quanto mais perto da origem do laço, mais qualificados os inimigos, mais curto o prazo para agir.
O treinamento breve com Dai Feng reordena a luta corpo a corpo. Em ciclos seguintes, esse aprendizado rende segundos preciosos contra adversários como Guan Yin, o que libera tempo para tarefas antes inviáveis. Ao mesmo tempo, exige preparo e foco que podem falhar sob estresse. O filme trata essas trocas de maneira objetiva: habilidade adquirida não garante sucesso automático, apenas melhora a taxa de acerto quando aplicada no momento certo. Isso mantém o interesse na mecânica de tentativa e erro e evita que o protagonista se torne inalcançável.
Conforme o cerco aperta, a perseguição de rua se conecta a um plano mais amplo comandado por Clive Ventor. Ao perceber que o projeto ameaça múltiplas vidas além da sua, Roy redefine a meta de apenas sobreviver para interromper o experimento dentro de uma janela limitada de tentativas. Essa mudança amplia o alcance do conflito e acrescenta urgência ao calendário interno do personagem. Agora, cada morte não é apenas reinício frustrante, mas redução concreta do tempo útil para evitar um dano mensurável.
O ponto de maior tensão combina objetivo claro, janela curta e múltiplas dependências. Roy precisa alinhar entradas, saídas, distrações e contatos para alcançar o núcleo do experimento e interromper o processo. Se erra uma porta, perde tempo e morre; se acerta, avança para a fase seguinte, em que a cooperação de um aliado específico define o sucesso do passo adiante. O filme amarra tentativas anteriores a esse teste, pois as habilidades e informações coletadas ao longo dos ciclos passam a ser exigidas quase em simultâneo. A consequência de uma falha é verificável: retorno imediato ao início com uma variável a menos, já que ninguém além dele guarda a memória do erro.
A lógica das decisões cobra preço imediato. “Mate ou Morra” mantém o foco na contabilidade do aprendizado e na disciplina de repetir até acertar. O experimento segue ativo, e cada reinício reduz a margem de manobra de Roy; transformar informação em ação torna-se a única via possível enquanto o dia volta ao início com hora marcada.
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