Baseado em best seller de Lee Child, sequência de ação com Tom Cruise retorna à Netflix Chiabella James / Paramount Pictures

Baseado em best seller de Lee Child, sequência de ação com Tom Cruise retorna à Netflix

Revendo “Jack Reacher: Sem Retorno”, mesmo anos após a estreia nos cinemas, é impossível ignorar a sensação de déjà vu que persegue o espectador. A expectativa de repetir a experiência eletrizante do primeiro “Jack Reacher” se choca com a realidade: o filme cumpre formalidades, mas falta-lhe alma. É como receber um jantar impecavelmente servido, mas insosso, onde cada prato é bem apresentado, mas nenhum deixa lembrança duradoura. A frustração que senti ao sair do cinema em 2016 permanece, mesmo após reexibições disponíveis em plataformas de streaming.

O problema central deste segundo capítulo parece residir na comparação inevitável com seu predecessor e na escolha do diretor. Enquanto Christopher McQuarrie, responsável pelo original, possui currículo limitado na direção, ele demonstra uma rara habilidade de equilibrar ação, ritmo e desenvolvimento de personagens, garantindo que cada cena não seja apenas funcional, mas memorável. Edward Zwick, por sua vez, ostenta um histórico de dramas épicos premiados, mas ao assumir a franquia, parece ter perdido a sintonia com o espírito que tornou Reacher atraente: um herói metódico, implacável, mas com humanidade suficiente para se tornar icônico. A impressão que fica é a de uma intervenção produtora: mudar o tom, o ritmo, talvez até a política implícita da narrativa, com resultados desastrosos.

Essa sequência sofre de um efeito dominó de decisões pequenas que somadas minam o filme. Diálogos forçados, sequências de ação implausíveis, personagens superficiais e cenários previsíveis transformam o que deveria ser tensão em monotonia. Até mesmo o elenco, que mantém Cruise e Smulders, falha em capturar a química ou a presença que caracterizou o primeiro longa. Cruise parece cumprir tabela; Smulders entrega momentos de força, mas não há brilho ou complexidade que a tornem memorável. Personagens secundários que antes davam peso e textura à narrativa: Jenkins, Courtney, Herzog, Duvall são substituídos por figuras anônimas, que pouco acrescentam, tornando cada confronto, cada perseguição, menos impactante.

Curiosamente, a abertura do filme é a única sequência que lembra o original, proposital ou não, é um lembrete de que a franquia ainda sabe onde acertou da primeira vez. O restante, porém, insiste em tropeçar em clichês dos anos 90, confiando na indulgência do público para engolir falhas como hackers que acessam CCTV remotamente ou confrontos que desafiam a física. As lutas continuam coreografadas com precisão técnica, mas faltam stakes emocionais; os golpes acertam, mas não doem. É um filme de ação que não arrisca, que segue fórmulas, e que se esquece do prazer do detalhe, aquele cuidado minucioso que transforma cenas comuns em momentos icônicos, como se fossem riffs perfeitos de um álbum de estreia de uma banda lendária.

O enredo tenta complicar a vida de Reacher com conspirações militares, traições, assassinatos e até uma inesperada paternidade, mas tudo se desenrola em sequência quase mecânica, sem o suspense ou a surpresa necessários para prender de verdade. Há momentos de mérito, Smulders, ao menos, mantém a personagem resistente, evitando que a narrativa descambe para melodrama romântico, mas mesmo eles não bastam para salvar o filme. A sensação que fica é a de uma produção que cumpre o contrato de entretenimento, mas ignora o que fez o original inesquecível: atenção obsessiva aos detalhes e respeito à inteligência do espectador.

“Sem Retorno” é um lembrete cruel de como sequências podem falhar não por falta de orçamento, elenco ou expertise técnica, mas por não compreenderem a essência do que as tornou atraentes. Um filme que parece conhecer o que fez bem, mas que se recusa a repetir a fórmula, e, sem essa repetição, a mágica simplesmente evapora. O espectador sai da sala com a sensação de ter assistido a algo grande, mas que nunca atingiu seu potencial. Em suma, um espetáculo de ação que acerta no básico, mas falha onde realmente importa: em deixar uma marca.

Filme: Jack Reacher: Sem Retorno
Diretor: Edward Zwick
Ano: 2016
Gênero: Ação/Aventura/Suspense
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★