Chegou à Netflix e você precisa assistir: um dos filmes mais aguardados de 2025, com Colin Farrell e Tilda Swinton Divulgação / Nine Hours

Chegou à Netflix e você precisa assistir: um dos filmes mais aguardados de 2025, com Colin Farrell e Tilda Swinton

Jogos de azar fascinam porque transformam o acaso numa promessa de renovação. Apostas talvez sejam o jeito mais rápido de chegar-se às conquistas que levariam anos, décadas, tomando forma sob luzes coloridas e uma atmosfera hipnótica, que cerca de magia o ambiente. Contudo, por trás do prazer efêmero dos bons lances dos dados e do sobe e desce das cartas, há uma força destrutiva que corrói a razão e mina a saúde. Para se ganhar a vida desafiando a sorte é necessário observar um mecanismo complexo, que não raro degringola em frustração e ruína, lição que Lord Doyle custa a aprender. O protagonista de “Balada de um Jogador” parece um almofadinha risonho, mas é só umhomem que foge do colapso. Edward Berger, bem a seu modo, delineia assuntos sérios com ironia matadora, como já fizera nos muito bem-sucedidos “Nada de Novo no Front” (2022) e “Conclave” (2024), permitindo-se afrouxar a rédea e dispor do exagero com método.

Lord Doyle está em Macau, a terra da jogatina, ou, para Berger, a “excrescência do capitalismo”. Adaptado de “The Ballad of a Small Player” (“a balada de um jogador secundário”, em tradução livre; 2014), o romance psicológico de Lawrence Osborne, o roteiro de Rowan Joffé prioriza o espetáculo, sem ignorar a filosofia por completo. Paulatinamente, ela vai aparecendo, na maneira como o diretor apresenta seu anti-herói, perdido em ilusões e dívidas quilométricas. Suas despesas num hotel de luxo já estão em mais de 350 mil dólares de Hong Kong, mas Doyle conserva a pose, acreditando que não tarda a receber o beijo doce da fortuna. Esperto, ele sabe que seu talento para engambelar tem limite, e trata de ir defendendo-se como consegue. É aí que entra Dao Ming, a funcionária do cassino que alivia o seu lado e concede-lhe mais crédito. Mas nem tudo pode ser de acordo com a sua sagrada vontade.

Doyle está na mira de Cynthia Blithe, uma investigadora particular contratada por financistas britânicos que exigem que o malandro pague os milhares de dólares que lhes deve. O truque de Berger em “Balada de um Jogador” é revezar as abordagens e nunca dizer com convicção quem levará melhor, se Ming ou se Cynthia, cada qual apontando para uma face oposta do personagem central, uma empenhando-se por sua improvável redenção, ao passo que a outra não sossega enquanto não o vir liquidado. Numa interpretação atenta, Colin Farrell sempre capta os momentos de bravata e de genuína fragilidade de Doyle, levantando a bola para Fala Chen e Tilda Swinton, um trio que, a despeito das justas desconfianças iniciais, funciona. As concessões de EdwardBerger ao humor macabro e ao nonsense são uma jogada de mestre.

Filme: Balada de um Jogador 
Diretor: Edward Berger
Ano: 2025
Gênero: Drama/Mistério/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.