A história de amor recordista de bilheteria do cinema indiano em 2025 acaba de chegar à Netflix Divulgação / Netflix

A história de amor recordista de bilheteria do cinema indiano em 2025 acaba de chegar à Netflix

O conflito central opõe amor, trabalho e responsabilidade diante de uma doença que acelera prazos e transforma cada passo em decisão mensurável. Em “No Amor e na Música”, dirigido por Mohit Suri, Ahaan Panday e Aneet Padda vivem Krish Kapoor, músico que busca se afirmar, e Vaani Batra, escritora discreta que transforma textos em letras; o filme declara cedo que a relação entre eles será testada por escolhas de carreira e de cuidado quando um diagnóstico entra em cena e passa a exigir rotinas rígidas e ajustes de percurso.

Krish começa com objetivo direto, provar talento em um mercado competitivo. A rota muda quando ele encontra os escritos de Vaani e enxerga ali matéria para canções. Ao propor colaboração, ele divide o foco entre a ambição individual e a tarefa de traduzir a voz dela em música popular. A parceria cria uma rotina clara, letra antes, melodia depois, que marca o tempo das cenas, alinha expectativas e dá a Vaani espaço para se ouvir, enquanto dá a Krish disciplina.

O efeito aparece nas primeiras respostas do público, que reconhece a assinatura das palavras dela e associa a dupla a refrões fáceis de lembrar. Com o interesse do produtor Vinit Rawal e a entrada da banda Josh no circuito, o calendário aperta. O amigo KV tenta coordenar compromissos, e cada convite amplia a chance de erro público. O objetivo de Krish deixa de ser conseguir um lugar para se tornar sustentar relevância sem perder autoria.

Quando os esquecimentos de Vaani aparecem, ela adia a conversa e tenta manter a engrenagem funcionando. O problema sai do íntimo e alcança o operacional: uma palavra trocada compromete a letra, um lapso de horário atrasa a passagem de som, um nome dito no impulso revela algo que ela ainda não quer admitir. Ao ouvi-la chamar por outra pessoa, Krish percebe que o obstáculo não é só a pressão do mercado.

O retorno do ex-noivo, Mahesh Iyer, funciona como agente externo que explora a vulnerabilidade dela e desloca situações privadas para ambientes de exposição. Isso eleva o risco em apresentações e altera o objetivo imediato do casal, que passa a incluir proteção e previsibilidade. A presença dele não serve de enfeite, e sim de gatilho para incidentes que forçam escolhas rápidas e reduzem a margem para recuos.

A família de Vaani, Sr. e Sra. Batra, entra na conversa com cuidados objetivos. Orientados por avaliação médica, pedem rotina regrada e sugerem um período em lugar mais tranquilo. Essa recomendação mexe no desenho de vida dos dois, realinha agendas e reduz espaço para viagens longas e eventos noturnos, o que cobra de Krish decisões que custam vitrine e mexem com contratos.

A trilha atua como informação e ponto de vista. As letras de Vaani entregam ao espectador aquilo que os personagens relutam em dizer; quando ela escreve sobre medo de perder referências, entendemos o estágio do problema e o tamanho do risco para a parceria. A edição acelera o tempo narrativo em apresentações, condensando semanas de trabalho em minutos e deixando claro que o sucesso chega mais rápido do que a capacidade de administrar a doença. O caderno de Vaani, fonte das canções, muda o foco de passagens específicas para a memória dela sem explicações didáticas, reforçando que a escrita guia o entendimento de cada fase.

Há viradas definidas por decisões práticas. Em reunião importante, Krish cancela presença para acompanhar Vaani após um episódio de confusão, perde capital com produtores e compra tempo para ela. Em seguida, a reaproximação de Mahesh durante uma ocasião pública eleva a tensão a um patamar em que qualquer deslize vira registro e repercussão. O ambiente deixa de ser o estúdio, controlado, e passa a ser o palco, incontrolável, onde a exposição multiplica o preço do próximo passo.

As consequências são imediatas. A sequência de shows desacelera, a equipe se dispersa e a imprensa especula sobre o futuro de Krish. Ele precisa decidir se transforma a dor em música e expõe a própria vida para manter o trabalho ou se recua para preservar o que resta de privacidade. Vaani, por sua vez, encara a perda progressiva de referências e a possibilidade de uma rotina que reduza gatilhos, ainda que isso implique mudar de cidade e rever a presença dele no dia a dia.

O filme ancora essas escolhas em gestos simples, guardar um caderno, corrigir um verso, combinar horários fixos, e evita transformar o diagnóstico em figura de linguagem. Tudo tem efeito contável na autonomia dela e na trajetória dele. A comparação útil aqui é com “Nasce uma Estrela”. Lá, a queda de um artista impulsiona a ascensão de outro em lógica de mercado. Em “No Amor e na Música”, o roteiro prende os dois ao mesmo risco de saúde e desloca o debate de ego para cuidado.

As canções funcionam menos como propaganda e mais como registro, um histórico que aponta avanços, recaídas e brechas de lucidez entre estúdio, consultas e corredores de eventos. Sem revelar a resolução, vale delimitar o que está em jogo quando a história alcança seu ponto máximo. De um lado, a chance de Krish apostar em uma música nascida do diário de Vaani para sustentar o trabalho e criar um escudo público. De outro, a possibilidade de Vaani priorizar um ambiente estável, mesmo que isso reduza a presença de palco e mude o desenho da relação. As duas rotas cobram preço alto e produzem efeitos distintos sobre carreira, família e saúde. O filme encerra esse trecho deixando decisões pendentes e mantém abertas as perguntas que importam, o que cada um escolhe guardar e o que cada um aceita perder quando o tempo se torna o adversário mais constante.

Filme: No Amor e na Música
Diretor: Mohit Suri
Ano: 2025
Gênero: Drama/Musical/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★