Fenômeno mundial, sequência de romance baseado em livro com 300 milhões de leitores está no Prime Video Divulgação / Pokeepsie Films

Fenômeno mundial, sequência de romance baseado em livro com 300 milhões de leitores está no Prime Video

O último filme da franquia, “Nossa Culpa”, transpira uma potência estranha: não se trata apenas de fechar ciclos ou de anestesiar as feridas da narrativa, mas de expor o quanto amar pode corroer silenciosamente, até quando se tenta reconstruir. Esse filme não quer só mobilizar o afeto, ele força o espectador a conviver com o desconforto do desejo persistente, da culpa persistente, do embate entre o querer muito e o não conseguir perdoar.

Desde o reencontro de Nick (Gabriel Guevara) e Noah (Nicole Wallace) na cerimônia de casamento de pessoas queridas, contexto que mistura celebração e tensão como um ácido suave, a trama enrola uma teia de ressentimentos que nem o tempo entendeu direito. Nick, envolvido com Sofia, guarda mágoas profundas. Noah, tentada a reconstruir sua vida, se choca com o fato de que Nick virou acionista majoritário da empresa dela: ato simbólico, gesto de poder e traição que ressuscita feridas achadas cicatrizadas. O conflito não está nos gritos ou nas explosões dramáticas, mas no peso do silêncio, nos olhares que permanecem em loop, no ciúme que só se verbaliza por entre as costuras da cena.

As performances se elevam nos espaços entre o falado. Gabriel Guevara estreia uma versão de Nick menos teatral, mais introspectiva: suas sobras de ira revelam uma carenagem de vulnerabilidade que ele tenta negar. Nicole Wallace, como Noah, veste uma armadura discreta; ela avança, aprende, recua e nesses idas e vindas nos reconhecemos, pois eles carregam o rastro de todas as vezes em que amamos e chora­mos no escuro, sem testemunhas. As personagens secundárias, Jenna e Lion, Sofia e Briar, não são meros acessórios para o sofrimento coletivo: elas amplificam a tensão moral, mostrando como os nós dos outros também apertam nos nossos dias.

Cinematicamente, o filme investe numa luz muito clara, quase impiedosa, que expõe cada fissura emocional; nos figurinos leves de Noah, há memória do passado e premonição de rupturas; até os silêncios parecem falas espremidas entre o que foi dito e o que ficou calado. Mas há armadilhas: uma dependência previsível de coincidências: o encontro no casamento, o laço empresarial, que dilui um pouco o peso do realismo emocional. Algumas linhas narrativas desejariam mais espaço, menos pressa para definir destinos.

Porém, há algo que permanece depois que o filme acaba: a sensação de que perdemos algo importante com o silêncio insistente entre os protagonistas. “Nossa Culpa” não nos permite simplesmente celebrar o reencontro. Somos obrigados a pensar no que custa deixar ir, no que pesa dentro da gente quando não perdoamos ou quando perdoamos antes de curar. E talvez esse seja o gesto mais ousado da trilogia: não entregar alívio, mas insistir na verdade amarga do amor, sua força, sua dor, sua impossibilidade de apagar totalmente o que fomos.

Filme: Nossa Culpa
Diretor: Domingo González
Ano: 2025
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★