Vencedor de 2 Oscars que é o programa perfeito para seu sábado, no Prime Video Divulgação / Universal Pictures

Vencedor de 2 Oscars que é o programa perfeito para seu sábado, no Prime Video

A primeira parte de “Wicked” consegue cativar, mesmo entre contratempos, ao reinterpretar a história que todos acreditavam conhecer. O “Mágico de Oz” se revela uma fraude, e a tradicional vilã da narrativa se converte em heroína, um gesto de subversão que desafia a familiaridade do público com o clássico. A escalação do elenco é, sem exagero, impecável. Cynthia Erivo e Ariana Grande brilham não apenas na voz, mas na presença de palco, enquanto Michelle Yeoh encarna sua personagem com autoridade serena, mesmo com cabelos brancos.

Jeff Goldblum se diverte como um charlatão carismático, criando tensão e dúvida sobre as intenções da protagonista. Mas essa inversão moral, transformando a suposta vilã em figura de bondade, acaba, curiosamente, padronizando a narrativa: os conflitos se tornam previsíveis, e a questão central não é mais “quem é o mal?”, mas “quando ela perceberá seu verdadeiro poder?”. Musicalmente, cada canção é grandiosa, sem pausas que permitam respirar ou refletir, com coreografias elaboradas que, na edição, se fragmentam em clipes curtos, diluindo a emoção que poderiam carregar.

O design de produção, a cargo de Nathan Crowley, com direção de arte de Ben Collins, é outro destaque: uma fusão astuta de referências Pré-Rafaelitas e Beaux-Arts que cria um universo visual elegante e coerente com o período em que a narrativa se inspira. Ainda assim, o filme não alcança o status de clássico moderno do musical. Hollywood parece ter esquecido lições preciosas da década de 1930 e 1940 sobre ritmo, intensidade dramática e equilíbrio entre música e narrativa. O gênero, ao que tudo indica, perdeu seu lugar no cinema regular, sobrevivendo mais como revival nostálgico da Broadway do que como linguagem viva e contemporânea.

Apesar disso, há momentos de encanto: o público que lotou a sessão matinal reagiu com entusiasmo, e a beleza do registro audiovisual torna o espetáculo agradável, mesmo que a paciência seja testada. Três horas de canções contínuas podem exaurir até os mais apaixonados, e o filme exige resistência, mas também oferece recompensas, especialmente nas passagens em que a harmonia entre interpretação e música se estabiliza. O maior desafio, talvez, seja aceitar a duração e o formato em duas partes, que transformam a experiência em uma maratona de expectativa.

“Wicked” não é memorável como clássico cinematográfico, mas se sustenta como experiência interessante e visualmente sofisticada, capaz de fascinar, irritar e instigar reflexões sobre o gênero. A diversão é real, embora temperada por frustrações estruturais, e a promessa da continuação mantém acesa a curiosidade: a verdadeira história, como na própria magia de Oz, ainda está por vir.

Filme: Wicked
Diretor: John M. Chu
Ano: 2024
Gênero: Comédia/Fantasia/Musical
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★