O cinema sempre encontrou no luto um território fértil para narrativas intensas, universais e profundamente humanas. A morte, inevitável e transformadora, rompe a rotina e lança personagens em jornadas de autodescoberta, reconstrução e enfrentamento da dor. Nos filmes que exploram esse tema, vemos indivíduos lidando com ausências que nunca se completam, mas que se transformam em aprendizado, resiliência e, por vezes, em novos vínculos capazes de iluminar a escuridão do luto.
Essas histórias não se limitam à dor, mas mostram o que vem depois dela: o processo lento de reorganização emocional e a busca por sentido em meio ao vazio. São filmes que revelam a fragilidade humana, mas também a capacidade de se levantar diante da perda, seja pelo afeto renovado em relações familiares, pela descoberta de uma força interior ou pela criação de laços inesperados. Ao retratar o luto, essas obras iluminam o paradoxo da vida: é no encontro com a morte que muitas vezes redescobrimos a importância de viver.
A Revista Bula encontrou na Netflix produções que encaram essa jornada sob diferentes prismas, do romance ao drama familiar, da delicadeza intimista à intensidade arrebatadora. Em comum, todas partem de uma ferida aberta para alcançar um movimento de superação. Aqui, reunimos cinco histórias que exploram como personagens de distintas idades, culturas e experiências atravessam a perda, encontrando novos caminhos de amor, esperança e reconciliação.

Marc tem a vida virada do avesso quando seu marido, Oliver, morre de forma inesperada; a perda o deixa perdido, e ele foge entre culpa, negação e uma tristeza que abala todo o círculo íntimo. Amigos leais — Sophie e Thomas — o convencem a viajar a Paris na tentativa de transcender a dor, e a jornada torna-se um processo de enfrentamento que mistura lembranças, confissões e revelações sobre o próprio passado e sobre o relacionamento que perdeu. A narrativa acompanha como o luto pode romper certezas e, ao mesmo tempo, abrir espaço para novas verdades: o filme explora a amizade, o perdão e a possibilidade de reconstrução após um trauma afetivo profundo.

Depois da morte súbita do bebê do casal, Lilly e Jack tentam sobreviver ao luto; enquanto ele busca tratamento e se afasta, ela fica diante de um vácuo existencial e começa a ser atormentada por um estorninho agressivo que se instala perto de sua casa. A ave transforma-se em símbolo — e catalisador — da raiva, culpa e incompreensão que acompanham a mãe enlutada. Em sua trajetória para seguir em frente, ela acaba encontrando ajuda inesperada em um veterano e em um ex-psiquiatra que hoje cuida de animais, e passa a confrontar medos, memórias e a aprumar a própria vida. A fábula equilibra tristeza e humor seco, mostrando como pequenos gestos e ligações humanas podem abrir caminho para a reconstrução.

Duas histórias de amor em épocas e contextos diferentes correm em paralelo: de um lado, um jovem universitário que vive um romance intenso e, num revés trágico, sofre uma morte súbita; de outro, um herdeiro cubano enfrenta problemas de saúde graves e busca uma segunda chance. A ligação entre as tramas surge de forma inesperada e comovente — por meio de doação de órgãos — e transforma perdas em gestos de generosidade e esperança para outros personagens. O filme traça como vidas separadas acabam entrelaçadas por eventos médicos e escolhas humanas, celebrando amor, destino e a complexa economia emocional do dar e receber.

Um avô que perdeu a esposa vive mergulhado em silêncio e perdeu o desejo de pintar — sua vida diária passa a ser uma sucessão de rotinas sem cor. A neta, cheia de curiosidade e ternura, passa a visitá-lo com insistência; por meio de seu afeto e de um desenho inocente, ela vai abrindo portas que o avô tinha fechado. Ao descobrir o estúdio e confrontar lembranças guardadas, o homem reencontra memórias da parceira perdida e, gradualmente, a inspiração para retornar à pintura. Em poucos minutos, o curta mostra, sem diálogos extensos, como a arte e o afeto podem ser caminhos para transformar o luto em criação e continuidade de um legado afetivo.

Ollie Trinke é um publicitário bem-sucedido cuja vida muda radicalmente quando sua esposa morre durante o parto, deixando-lhe uma filha recém-nascida, Gertie. Devastado pelo luto e incapaz de conciliar carreira e maternidade, ele se distancia da menina, que passa a ser criada principalmente pelo avô Bart. Ao enfrentar as cobranças familiares e a própria culpa, Ollie é forçado a rever prioridades: abandonar a ambição profissional desmedida ou assumir de vez a paternidade. Ao longo do filme, conflitos, ausências e reconciliações levam pai e filha a reaprenderem a conviver e a encontrar um novo equilíbrio emocional, numa trajetória que mistura humor, drama e redenção familiar.