Acabou de sair do cinema e já chegou ao Prime Video: o último filme da maior franquia de ação do cinema mundial Divulgação / Paramount Pictures

Acabou de sair do cinema e já chegou ao Prime Video: o último filme da maior franquia de ação do cinema mundial

As quase três horas de “Missão: Impossível — O Acerto Final” deslizam com Ethan Hunt pelos céus dos quatro cantos do planeta por onde a narrativa vai e quando acaba resta aquele sentimento bom de… missão cumprida. Na oitava produção da franquia — e ao que tudo indica, a última —, Christopher McQuarrie une o que pode haver de mais estimulante em cenas de perseguição ao humor voluntário de seus personagens, sem dúvida um dos segredos de “Missão: Impossível” ter ido tão longe e ter cativado tanto a audiência. A impressão é que a série, criada por Bruce Geller (1930-1978) e exibida pela CBS entre 1966 e 1973, não vai acabar só porque falta espaço para mais uma fileira de cruzinhas na coronha do seu mocinho torto. Tom Cruise até pode ser compulsoriamente retirado do elenco, mas já se teoriza que Glen Powell, brilhante em “Top Gun: Maverick”, estará disposto a encarar o desafio se convocado. E isso não é nenhuma coincidência. Lançado em 2022, o filme de Joseph Kosinski reuniu Cruise e Powell, que duelaram pela atenção do espectador sem nenhuma cerimônia. Cruise apareceu para o grande público no “Top Gun” levado à tela por Tony Scott (1944-2012) em 1986, e uma década mais tarde estreava como o agente mais habilidoso da Força de Missões Impossíveis, dirigido por Brian De Palma. Levará algum tempo até que consigamos nos habituar à ausência de Cruise (e com razão), mas talvez seja mesmo a hora do ciclo se fechar.

“O Acerto Final” começa com um flashback de cenas dos outros sete capítulos. Nelas, nota-se que Hunt já passou por maus bocados, apesar de sua nova tarefa ser a que o transtorna mais. A poesia ácida de McQuarrie e do corroteirista Erik Jendresen vem a calhar, mormente para os saudosistas, aqueles que nunca se esquecem do começo do anti-herói pela lente de De Palma. Essa recapitulação autoriza-nos a especular sobre o desencanto natural do espião frente ao modo como ganha a vida, um trabalho de Sísifo que nunca se conclui e, pior, torna-se cada vez mais árduo. Agora, o arqui-inimigo de Hunt é A Entidade, um dispositivo de inteligência artificial que subjuga oito bilhões de terráqueos mediante a ameaça de uma ofensiva nuclear. Numa tentativa de evitar o apocalipse, a presidente Erika Sloane clama pela ajuda de seu braço-direito secreto, e malgrado em aparições bissextas, Angela Bassett continua afiada, imprimindo uma providencial aura de glosa política ao enredo. Junto com Hunt vêm, claro, Luther Stickell e Benji Dunn, e Ving Rhames e Simon Pegg mantêm o status de figurantes com tempo de tela estendido, protocolares em suas entradas e meio robóticos na interação com Cruise. Felizmente, o diretor olha com a merecida atenção para Grace, a charmosa punguista encarnada por Hayley Atwell, além de iluminar o talento de Pom Klementieff e Greg Tarzan Davis, que na pele de Paris e Degas trazem algum frescor para a velha saga.

Por trás da A Entidade está Gabriel, de Esai Morales, lembrete meio óbvio de que o homem continua a ser seu próprio lobo, e McQuarrie, diretor de cinco dos oito filmes da franquia, faz do argumento a marca registrada de uma odisseia da pós-modernidade, com todas as iterações quase obsessivas que isso evoca. Christopher McQuarrie nos diz que essa perambulação às cegas não termina tão cedo, e que só nos resta torcer para que alguma outra alma bondosa nos venha resgatar. Já era hora de Ethan Hunt ser só mais um homem comum.

Filme: Missão: Impossível — O Acerto Final
Diretor: Christopher McQuarie
Ano: 2025
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.