De repente, duas pessoas se encontram e a atração é tão avassaladora que não dá para resistir. Cada toque, cada olhar, cada palavra carrega uma urgência vital, como se o mundo inteiro dependesse daquele momento. No início, tudo é calor, febre, e a paixão confunde-se com necessidade. Mas, com o tempo, a chama que parecia eterna começa a bruxulear. O que era surpresa passa a ser rotina. Os silêncios, antes confortáveis, tornam-se incômodos, e os gestos espontâneos se convertem em hábitos robóticos. A intensidade dos primeiros dias cede lugar a dúvidas acerca do que ainda se sente, e o que sobra é o vazio, ou, quando muito, uma memória nostálgica e dolorosa. Nem todo amor foi feito para durar, mas alguns nascem justamente para queimar o mais rápido possível. Embora curtos, esses romances eternizam-se na lembrança, tão turbulentos quanto inesquecíveis. “Quero Você” evoca no público a imagem de um romance tórrido, que amalgama tensão e sensualidade. Sherry Hormann aposta na ambivalência, e urde uma narrativa em que a luxúria e o pânico frequentam os mesmos lençóis, dualismo reforçado por uma paisagem edênica.
O segredo de um bom golpe é oferecer à vítima exatamente o que ela deseja, ainda que não o saiba. Essa é uma pista valiosa para quem não quer perder seu tempo com mais uma história cheia de gente bonita e algo desnorteada, ansiando por encontrar um propósito na vida. Parece ser este o caso de Lilli Funke, uma designer de joias de luxo com algumas pendências emocionais graves, embora mantenha-se firme. O roteiro de Stefanie Sycholt, batido, mostra Lilli como uma mulher independente, centrada, livre, mas não demora a cair numa contradição quando a protagonista viaja a Maiorca para morar com Valeria, a irmã caçula. Se Lilli está um tanto descrente do amor, Valeria não demonstra nenhum receio ao engatar um noivado com Manu, um francês radicado na ilha que conhecera apenas quatro meses antes, e planeja abrir uma pousada com ele. Percebe-se a intenção de Hormann quanto a sublinhar o binômio vulnerabilidade-força de Lilli, destacada também pela atuação segura de Svenja Jung, mas a certa altura, um desses componentes da personagem desequilibra-se em excesso.
Aos poucos, Lilli também é tomada pelo feitiço que subjuga Valeria. Ela conhece Tom, um dono de boate que tem todo o jeito do príncipe pelo qual ela nem soubesse que esperava, e a vontade de experimentar novas emoções custa-lhe caro. A diretora não consegue desvencilhar-se de clichês bem típicos do gênero, e o segundo ato consiste em grande parte nas cenas em que Valeria passa por maus bocados com Manu, o sedutor profissional de Victor Meutelet, um amador se comparado ao novo amigo íntimo de Lilli. Mesmo que não seja nada surpreendente para olhos treinados, a incerteza sobre quem de fato representa perigo conduz a narrativa, estimulando os devaneios do público. A química de Jung e Tijan Marei, maior que a afinidade entre Lilli e Valeria junto a seus pares masculinos, salva “Quero Você” do desastre completo por muitas vezes. A grande decepção aqui é Theo Trebs, que desperdiça várias chances de dar a Tom os contornos de psicopatia de que o anti-herói carece. Crer em sua redenção, destarte, é impossível.
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