Franz Kafka deixou marcas indeléveis na literatura. O absurdo e o inevitável se encontram em um universo de pessoas comuns que se vêem esmagadas por estruturas invisíveis, regras incompreensíveis e destinos dos quais não se pode escapar. Se o autor estivesse vivo hoje, talvez ele poderia acrescentar à sétima arte uma inesgotável fonte de ironia e desconforto com roteiros capazes de provocar um riso amargo que nasce quando a realidade se mostra mais bizarra que a ficção.
Fizemos uma busca na Netflix para identificar alguns títulos que traduzem exatamente o espírito transmitido por Kafka. Narrativas em que a ordem social e a lógica do mundo parecem tão distorcidas que o espectador ri, mas de desconforto. Esses filmes não servem lá muito para entretenimento. Eles são laboratórios de angústias, metáforas encenadas de um mundo governado por forças invisíveis. No rastro da obra kafkania, temas como burocracia, desigualdade, paranoia e identidade dissolvida são vistos. Mais do que histórias com começo, meio e fim, elas funcionam como enigmas abertos, onde cada detalhe desperta interpretações novas e cada absurdo contém uma ponta de verdade.O riso é mais mecanismo de defesa, para não sucumbir ao peso daquilo que reconhecemos no nosso cotidiano.
Nessa lista, filmes que Kafka assistiria rindo, entre a diversão e a inquietação. Essas obras formam um mosaico do absurdo contemporâneo e expõem a fragilidade das certezas e lembram que, muitas vezes, a realidade é tão incompreensível que só resta rir.

Uma jovem aceita viajar com o namorado para conhecer seus pais, em uma fazenda isolada. Durante o trajeto, pensamentos sobre romper o relacionamento se misturam com lembranças, reflexões e inseguranças. Ao chegar à casa da família, o tempo parece perder a lógica: os pais do namorado mudam de idade de uma cena para outra, e os diálogos se enchem de estranhezas, como se cada gesto fosse parte de um sonho perturbador. A viagem de volta intensifica a sensação de que nada é estável: o espaço se distorce, a identidade da protagonista parece escorregar entre diferentes versões de si mesma, e a narrativa se fragmenta como um quebra-cabeça sem resposta final. O filme acompanha a dissolução da realidade através da mente de quem já não distingue mais pensamento e experiência, desejo e arrependimento. É um retrato do absurdo da existência, onde a lógica se desfaz, e o espectador ri nervosamente diante do desconforto.

Em uma prisão vertical, cada andar abriga dois prisioneiros. Uma plataforma com comida desce diariamente, começando pelos andares superiores, até chegar aos inferiores. Quem está em cima come à vontade; quem está embaixo enfrenta a escassez, a fome e o desespero. Um homem recém-chegado, acompanhado por diferentes companheiros ao longo da trama, percebe que a sobrevivência depende não apenas da sorte do andar em que se está, mas também da violência, da ganância e da capacidade de resistir ao egoísmo. Conforme a plataforma desce, a desigualdade se torna grotesca, e a prisão revela sua verdadeira face: um experimento cruel que expõe o pior e o melhor da natureza humana. Entre alianças frágeis, traições e tentativas desesperadas de instaurar ordem, o filme mostra como a hierarquia imposta destrói qualquer ilusão de solidariedade, transformando a sobrevivência em uma luta absurda.

Kit, uma jovem artista recém-expulsa da faculdade de artes, retorna à casa dos pais sem rumo e aceita um emprego entediante em um escritório. Seu cotidiano, marcado pela frustração e pela sensação de fracasso, muda quando ela recebe um convite misterioso para visitar uma loja incomum. Lá, o vendedor oferece a oportunidade de realizar seu maior sonho de infância: adotar um unicórnio. Para conseguir, Kit precisa enfrentar uma série de tarefas que a desafiam a confrontar suas próprias inseguranças, expectativas e medos. Ao longo da jornada, ela questiona o que significa amadurecer, aprende a equilibrar sonhos e responsabilidades e descobre que a verdadeira magia da vida está em assumir sua autenticidade, enfrentando os absurdos e contradições de seu próprio mundo.