Novo thriller de Mel Gibson com Mark Wahlberg é o mais assistido do Prime Video no Brasil neste momento Divulgação / Lionsgate

Novo thriller de Mel Gibson com Mark Wahlberg é o mais assistido do Prime Video no Brasil neste momento

Conspirações políticas, muitas vezes negadas publicamente, alimentam desconfiança nas estruturas democráticas e corroem a transparência dos governos. Escândalos de espionagem, fraudes eleitorais ou o assassinato de um político eminente passam à História, demonstrando como interesses ocultos interferem no avanço de um país. Teorias conspiratórias, com ou sem fundamento, também se tornaram uma poderosa arma, sobretudo na era digital. Elas moldam percepções públicas, polarizam pontos de vista e, claro, minam o debate racional. Em “Ameaça no Ar”, Mel Gibson volta à direção com um thriller que remete aos clássicos do gênero dos anos 1990, mas com a estética e os dilemas morais que sobejam no cinema que se faz hoje. Enquanto finaliza “A Paixão de Cristo: Ressurreição”, previsto para 2026, o diretor arrisca-se num filão que mistura conchavos e heróis inconvencionais, tudo a dois mil metros do solo. 

O roteiro de Jared Rosenberg gira em torno de Madolyn Harris, uma bela xerife balançando no cargo que precisa capturar Winston, um criminoso que pode diminuir sua pena delatando um chefe da máfia. Tudo sai como o esperado, afora um copo de macarrão instantâneo que explode no micro-ondas do fugitivo, além de sua invencível verborragia, e os dois encaminham-se para a pista de pousos e decolagens de uma cidadezinha rural do Alasca, com destino a Anchorage. Depois que Madolyn coloca Winston no seu assento, algemado e preso a correntes, os dois aguardam por Daryl Booth, o piloto de forte sotaque texano e seu inseparável chiclete de nicotina, que nunca para de arrastar uma asa para a delegada. Pelo que se assiste na abertura, “Ameaça no Ar” parece uma chanchada tola e quase pueril, que Gibson sabe como transformar num suspense à medida que Madolyn percebe que há algo de errado com Booth. Ela o enrola numa conversa sobre o último piloto que a teria atendido numa ocorrência anterior, e então tem a certeza: ele é um farsante.

Olhos treinados percebem logo a verdadeira identidade de Booth, mas é essa a proposta de Gibson. A graça do longa é tentar descobrir a motivação do falso piloto e as possíveis justificativas para seu ataque, que nunca parece só um plano metódico para exterminar a testemunha. A performance do elenco prima pela irregularidade; enquanto Michelle Dockery convence como Madolyn, e leva a personagem a estimulantes conflitos morais, em especial depois que se sabe que Winston nem é tão nocivo quanto se pensava. Topher Grace, a propósito, faz o que pode com as piadas quinta-série do mafioso arrependido, mas nada se compara à vexatória presença de Mark Wahlberg num de seus piores trabalhos. Nada em Booth inspira a menor verossimilhança — e nem me refiro à careca, nitidamente raspada —, estrago o suficiente para comprometer todo o filme. Não fosse a canastrice do protagonista, “Ameaça no Ar” até poderia ser encarado como um “Voo Noturno” (2005), hoje um clássico de Wes Craven, assumidamente farofeiro. Como está, sente-se ainda mais pena de Wahlberg quando vem à memória o trabalho de Cillian Murphy.

Filme: Ameaça no Ar
Diretor: Mel Gibson 
Ano: 2025
Gênero: Ação/Suspense
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.