A nova literatura do burnout: 5 autoras que estão escrevendo o cansaço contemporâneo melhor que qualquer terapeuta

A nova literatura do burnout: 5 autoras que estão escrevendo o cansaço contemporâneo melhor que qualquer terapeuta

Burnout não é apenas uma palavra da moda. Tampouco é um diagnóstico que se encerra no excesso de tarefas ou na retórica do autocuidado. Ele mudou de forma. Espalhou-se para lugares menos visíveis — onde a fadiga não paralisa, mas silencia. Onde o sujeito continua agindo, entregando, cuidando, mesmo quando já não sente. Há quem tente explicar esse esgotamento com gráficos, métricas e protocolos. Mas há também quem o narre — com precisão emocional, sem fórmulas. Na literatura contemporânea, um conjunto específico de vozes tem se destacado por traduzir essa experiência com profundidade rara. Ottessa Moshfegh, Mariana Enriquez, Leïla Slimani, Susanna Clarke e Jenny Offill não escrevem sobre burnout diretamente. Mas todas acessam, com autoridade narrativa e densidade psicológica, o território onde ele se instala: o vazio da funcionalidade, a exaustão mental que não gera colapso visível, o cansaço que não encontra linguagem nos diagnósticos clínicos. São obras construídas a partir da observação aguda, de vivências íntimas e do domínio claro de formas estéticas que recusam o melodrama. Em comum, compartilham uma escuta atenta à dissolução lenta da experiência subjetiva — e isso exige mais do que talento: requer conhecimento profundo do tempo presente. A autoridade desses textos não vem da denúncia, mas da honestidade. Cada narrativa se sustenta no vínculo entre forma e afeto, no rigor de olhar para o desconforto sem intermediários. Não há uma tese. Há presença. E é essa presença — silenciosa, sensível, inquieta — que legitima cada uma dessas obras como registros confiáveis de um sintoma social mal compreendido. Num cenário editorial marcado por urgência e superficialidade, esses livros persistem como testemunhos elaborados com responsabilidade narrativa e um profundo senso de escuta. Eles não apenas reconhecem a dor: dão a ela uma forma ética, legível e compartilhável. E isso, no contexto atual, é mais que literatura — é um gesto de confiança. Um pacto com o leitor. Um reconhecimento mútuo de que há algo profundamente errado, mesmo quando tudo ainda parece funcionar.

Revista Bula

A Revista Bula é uma plataforma digital brasileira fundada em 1999, que atua como revista e também como editora de livros. Com foco em literatura, cultura, comportamento e temas contemporâneos, adota uma linha editorial autoral, com ênfase em textos opinativos e ensaísticos. Seu conteúdo é amplamente difundido por meio das redes sociais e alcança milhões de leitores por mês, consolidando-se como uma das referências em jornalismo cultural no ambiente digital. Além da produção de conteúdo editorial, a Bula mantém uma linha de publicações próprias, com títulos de ficção e não ficção distribuídos em formato digital e impresso.