A lista de objetos que foram superimportantes para mim, que marcaram certos períodos de minha vida, mas que não existem mais, é longa. Eu vi um monte de objetos que achava que eram eternos irem parar num caixote de coisas sem uso e serem jogados fora.
Só na maneira de escutar música eu perdi a fita K7, o LP (hoje conhecido como disco de vinil) e o CD. Pra mim, LP era melhor que CD, que era melhor que iTunes. Mas isso é minha opinião. Adorava frequentar lojas de discos, mas elas fecharam e, em seu lugar, abriram farmácias e pet shops.
Para assistir a filmes e séries, eu passei pela fita VHS e pelo DVD. Não cheguei a ter o disc-laser, cuja existência foi muito curta. Todas as sextas-feiras eu passava numa videolocadora para alugar filmes para o fim de semana. Mas é claro que a minha videolocadora preferida fechou, e no local agora funciona uma farmácia ou um pet shop, onde nem posso entrar para alugar um filme para o meu cachorro.
Foi a internet que detonou tudo isso, e depois os smartphones apareceram para esquartejar o que tivesse restado de produtos físicos.
Então me peguei pensando: o que mais vou ver acabar? Que objetos uso no meu dia a dia que vão desaparecer da minha vida daqui a pouco? Que lojas que frequento hoje fecharão para, em seu endereço, surgir mais uma farmácia ou pet shop?
Já consigo perceber algumas coisas que estão acabando. Falta só um empurrãozinho.
Os jornais impressos só continuam saindo por teimosia de seus donos e de velhos jornalistas. E de assinantes como eu, que têm preguiça de ligar para cancelar. Não se recebe mais nenhuma notícia pelos jornais impressos. Nem para embrulhar peixe eles servem mais, já que os peixeiros não são como eu. Eles cancelaram as suas assinaturas.
Eu adorava revistas. Fui até dono de uma revista, lá nos idos dos anos 80 do século passado, mas nunca mais li nenhuma. As bancas de jornal, que viraram bancas de cerveja, ainda expõem algumas revistas entre um biscoito e uma sandália Havaianas. Nem nas salas de espera de médicos eu leio mais revistas. Prefiro ficar jogando paciência no celular.
Para infelicidade dos cinéfilos, os cinemas estão nessa lista. Praticamente acabaram os cinemas de rua. As salas que sobrevivem ficam em shopping centers. A verdade é que os cinemas só não acabaram ainda graças aos filmes de super-heróis. O que também causa uma certa infelicidade nos cinéfilos.
Outro item na lista de coisas que estão por um fio são as cédulas de dinheiro. Eu tenho uma nota de cinquenta reais que está há mais de um ano na minha carteira. Já tentei pagar um monte de coisas com ela, mas ninguém tem troco. Ainda tem gente que usa cédulas, principalmente quem quer guardar grandes valores em casa com intentos não muito legais, nos dois sentidos. Enfim, hoje em dia existem mais cuecas, pastas e malas cheias de notas de dinheiro do que carteiras.
E o que mais será que vai acabar nos próximos tempos? Dizem que os carros serão substituídos por veículos autônomos, os celulares serão substituídos por algo que ainda não sabemos o que é e até a inteligência humana será substituída.
Quer saber? Vou até uma banca de jornal comprar uma caneta BIC com a minha nota de cinquenta reais e anotar tudo isso na minha agenda de papel para não esquecer.