Os 12 livros mais vendidos do mundo em 2025 até agora — e o que eles dizem sobre nós

Os 12 livros mais vendidos do mundo em 2025 até agora — e o que eles dizem sobre nós

As listas dos livros mais vendidos do mundo não se constroem sozinhas, nem surgem em silêncio. Elas não nascem do julgamento, mas da repetição. Não escolhem, apenas confirmam. Em 2025, os títulos que dominaram os rankings globais — com base em dados da Amazon Global, The New York Times, PublishNews Brasil, Circana (ex-NPD BookScan), GfK, Media Control, OpenBook, Oricon, Books Data e as divisões da Nielsen na Europa — traçaram um panorama mais afetivo do que literário, mais emocional do que estético. O leitor contemporâneo, fatigado, não buscou complexidade. Buscou consolo. E o mercado, atento, soube entregar.

As obras que se destacaram não desafiaram convenções. Reproduziram-nas. Rebecca Yarros vendeu milhões narrando academias militares habitadas por dragões domesticados, com tramas intensas, mas previsíveis, onde tudo é árduo, mas nada é ambíguo. Colleen Hoover consolidou sua posição como fenômeno emocional, oferecendo romances construídos sobre feridas calibradas, linguagem direta e finais que confortam mais do que confrontam. Freida McFadden converteu o cotidiano em tensão palatável, ambientando suas histórias em casas impecáveis, com esposas em alerta, maridos suspeitos e reviravoltas sob medida para adaptações em streaming. Tudo acessível, tudo veloz, tudo familiar.

No Japão, a Oricon registrou a permanência dos mangás e thrillers de fórmula. Na China, o OpenBook refletiu o avanço de guias espirituais e terapias de bolso. Na Europa Central, os levantamentos da GfK e da Media Control ainda revelaram brechas para narrativas dissonantes, como “James”, de Percival Everett, que subverte o cânone com inteligência crítica e ironia estrutural. Mas a tendência foi clara: o que mais circula é o que menos incomoda.

Mel Robbins também figurou entre os mais lidos com uma proposta de autocuidado minimalista. “Deixe que façam.” O imperativo ressoou. Talvez mais pelo que representa do que pelo que propõe. Porque o que o leitor parece desejar hoje não é provocação, mas alívio. A leitura, neste cenário, funciona menos como fricção e mais como anestesia. Não para despertar, mas para permitir o repouso.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.