Você já terminou uma leitura bufando e com a sensação de que merecia um reembolso emocional? Pois é. Acontece nas melhores famílias, e nas piores estantes. Esta lista é um alerta (ou um ato de vingança literária) contra obras que passaram por revisores, editoras e campanhas de marketing, mas não deviam ter passado nem da sinopse. São títulos que geram expectativas e entregam frustrações; que se vestem de ousadia, mas tropeçam na própria pretensão. E o pior: muitos viralizaram. Foram indicados com entusiasmo, defendidos com unhas e filtros no TikTok, e vendidos como se estivessem revolucionando a literatura nacional. Spoiler: não estão.
Claro, todo livro tem seu público. Mas também é verdade que algumas obras parecem escritas para ninguém, ou apenas para o ego do autor. Nesta seleção, reunimos histórias que se afogam em reviravoltas forçadas, ensaios que se vestem de teoria para gritar opinião, e tentativas de humor que soam como piadas contadas por um tio em crise existencial. Nem tudo aqui é mal escrito, mas tudo aqui é irritante. Algumas dessas leituras provocam aquela vontade sincera de escrever uma carta de desculpas para os seus neurônios. Outras, apenas de nunca mais confiar em recomendações literárias de gente com aro grosso e tote bag.
Nossa missão aqui é de utilidade pública: poupar tempo, salvar estantes e proteger leitores desavisados. E quem sabe até criar pressão para que livrarias adotem uma política de devolução por indignação estética. Porque pagar por um livro ruim é uma coisa. Mas pagar por um livro que parece ter sido escrito no intervalo de um podcast é crueldade. Então prepare-se: vem aí uma seleção que já deveria vir com alerta de gatilho e link direto para o Reclame Aqui. E se mesmo assim você quiser ler, não diga que não avisamos.

Propondo-se como uma crítica aos vícios da fé evangélica contemporânea, o livro reúne reflexões sobre o que significa ser cristão num mundo repleto de conveniências e vaidades. A ambição é clara: despertar consciência e confrontar a religiosidade confortável. Mas a execução derrapa em chavões reciclados, parábolas didáticas demais e um tom de pastor-coach que transforma denúncia espiritual em entretenimento evangélico. O autor parece falar mais para os convertidos do que para os inquietos, evitando confrontos reais com as contradições do próprio campo religioso. O texto acaba soando simpático, porém inócuo.

Com ares de manifesto cívico, o livro propõe uma discussão sobre a ascensão do discurso de ódio na internet e suas consequências para o debate público e a democracia. A proposta soa urgente, mas o texto é dominado por uma retórica que oscila entre o didatismo paternalista e o exibicionismo intelectual. O autor compartilha episódios pessoais para embasar suas teses, mas frequentemente cai em autocomiseração ou moralismo performático. As soluções apresentadas são vagas, genéricas e sem aplicação concreta, e o livro acaba reforçando polarizações que pretende combater, revelando uma retórica mais vazia que esclarecedora.

Publicado como parte de uma coleção de introdução aos feminismos, o ensaio tenta explicar o conceito de “lugar de fala” como instrumento de resistência e reposicionamento de grupos historicamente silenciados. A intenção é nobre, mas o texto tropeça em didatismos excessivos, argumentações circulares e repetições que empobrecem a força teórica da proposta. Em vez de esclarecer, o livro parece constantemente tentar reafirmar sua própria importância, criando um discurso que mais catequiza do que convida à reflexão. Para quem busca compreensão conceitual sólida, a obra decepciona, oferecendo pouco além de reafirmação ideológica.

Nove adolescentes se trancam em uma casa de campo para participar de um jogo macabro: uma roleta-russa que termina com sete corpos no chão. O que poderia ser um retrato sombrio da juventude se transforma em um espetáculo de sadismo e sensacionalismo. A narrativa alterna entre o diário deixado por um dos participantes e a investigação policial, mas a estrutura em falso mosaico serve apenas para esconder furos e excessos. O autor aposta em reviravoltas artificiais, descrições chocantes gratuitas e personagens rasos que falham em sustentar o peso da tragédia. O suspense é consumido por sua própria pressa em chocar, deixando a sensação de vazio emocional e falta de profundidade real.

Inspirado na figura real de um youtuber em crise, o livro propõe um mergulho ficcional em sua psique, num experimento narrativo que mescla diário íntimo, fluxo de consciência e crítica à cultura digital. Mas o que poderia ser um retrato incisivo da internet contemporânea vira um exercício de autocomplacência e ruído. O texto parece escrito às pressas, recheado de frases desconexas, referências internas e digressões que pouco contribuem à narrativa. A proposta de ser “espontâneo” se traduz em desleixo formal e falta de direção. O personagem central soa caricata e repetitivo, resultando em um monólogo confuso e vazio.