5 histórias que só terminam dias depois, quando você se dá conta do que viu Kirsty Griffin / Netflix

5 histórias que só terminam dias depois, quando você se dá conta do que viu

Alguns filmes terminam no momento em que os créditos sobem. Outros sequer precisam disso — se encerram muito antes, quando a história entrega o que prometeu e o espectador, satisfeito, parte para o próximo compromisso. Mas há os que se recusam a acabar. Histórias que escapam pelas frestas da narrativa, se infiltram no pensamento e insistem em ficar. Você acredita ter entendido tudo, apaga a luz da sala, mas dias depois, enquanto espera o café passar ou encara o teto na madrugada, o filme retorna. Só que de outro jeito — mais corrosivo, mais difícil, mais seu.

Não são histórias feitas para o consumo rápido ou para a satisfação imediata. Elas se instalam no ritmo da dúvida e operam de forma silenciosa, como um pensamento intruso que, quando menos se espera, ocupa espaço. “Estou Pensando em Acabar com Tudo”, de Charlie Kaufman, é exatamente assim. A viagem de um casal rumo a um jantar parece o cenário de um drama banal, mas o roteiro distorce tempo, memória e identidade de maneira tão sutil que, ao final, sobra menos compreensão do que inquietação. E é justamente essa inquietação que cresce com o passar dos dias, como uma rachadura que só se nota quando o chão já cedeu.

“O Poço” age de maneira diferente, mas provoca o mesmo efeito retardado. Num primeiro olhar, é fácil reduzir o filme à brutal metáfora social que escancara desigualdades em uma prisão vertical. Mas com o tempo, a narrativa revela nuances menos óbvias — questionamentos sobre moralidade, culpa, sobrevivência — que não estavam tão nítidos no choque inicial. De repente, o filme não é só sobre o que fazem com você, mas sobre o que você aceita fazer com os outros.

Já “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” trabalha no campo do descontrole absoluto. Alejandro González Iñárritu organiza o filme como quem monta um quebra-cabeça sem bordas. Memórias e fantasias se confundem, a busca por identidade vira um labirinto e, quando a história teoricamente termina, o espectador ainda tenta, sem sucesso, montar as peças na própria cabeça. O filme vai embora, mas deixa partes soltas, rondando a memória, esperando o momento certo para se recompor — ou talvez, para nunca se recompor de verdade.