5 livros que parecem ter sido escritos com sangue, vinho e saudade

5 livros que parecem ter sido escritos com sangue, vinho e saudade

Há livros que não nascem de uma ideia — nascem de uma urgência. Uma palavra que precisava ser dita, mesmo sem destinatário. Uma dor que, para não apodrecer, precisou ganhar forma. Quando Franz Kafka escreveu a seu pai, não buscava resposta: buscava escapar. “Carta ao Pai” — nunca enviada — é uma tentativa de existir sem se afundar na culpa. Não é um relato: é uma cicatriz aberta. E Primo Levi, ao narrar sua passagem por Auschwitz, não redime, não dramatiza, não consola. Apenas sobrevive no papel. “É Isto um Homem?” é o testemunho mais frio e mais humano do que pode restar quando tudo é arrancado — menos a consciência.

José Luís Peixoto, por sua vez, escreve em luto — mas o faz com ternura bruta, como quem fala para o que já não responde. “Morreste-me” é o silêncio depois da queda, o que se diz quando se perde até a linguagem. Ocean Vuong, com um lirismo quase insuportável de tão belo, transforma a memória em carta: escreve para uma mãe que não pode ler, fala sobre um amor que não pôde durar. Há em “Sobre a Terra Somos Belos por um Instante” um peso leve, uma dor que dança — e isso é ainda mais devastador.

E no meio do sertão, Riobaldo fala. Fala sem parar, como se a fala pudesse impedir o tempo de apagar o que ele ainda não entendeu: o amor, a morte, a dúvida. Guimarães Rosa criou não só um personagem, mas uma voz que arde — feita de pó, bala e alma. “Grande Sertão: Veredas” é menos romance e mais travessia.

Esses cinco livros não são para qualquer dia. São para quando se está prestes a romper. Neles, cada frase parece escrita com a última força de quem não aguentava mais — mas escreveu assim mesmo. Porque há dores que não se calam. Porque há memórias que, se não forem ditas, devoram por dentro. Porque há livros que, quando terminam, deixam a gente começando de novo. Só que diferente.