4 livros brasileiros elogiados porque ninguém quer parecer burro

4 livros brasileiros elogiados porque ninguém quer parecer burro

Existe uma categoria de livros que não se lê — se enfrenta. Eles não contam histórias no sentido tradicional, não oferecem personagens nítidos, tampouco confortam com desfechos. Em vez disso, desconstroem. E o fazem com um tipo de violência silenciosa, elegante, que desloca o leitor da posição segura de quem “entende” para a de quem apenas aguenta. Não é uma experiência de prazer imediato. É mais próximo do espanto — ou da humilhação sutil de perceber que nem tudo é feito para ser decifrado.

Há quem diga que basta sentir. Outros recorrem à teoria, ao aparato crítico, às notas de rodapé, como quem leva mapa para atravessar um incêndio. O que une essas obras é um tipo específico de opacidade: uma linguagem que gira sobre si mesma, uma estrutura que recusa lógica linear, uma presença narrativa que desconcerta. Há páginas que parecem sussurrar: “isso não é para você”. E ainda assim, seguimos lendo.

Porque, no fundo, ser tocado por algo indecifrável é uma forma de reverência. É como ouvir uma língua que não se conhece, mas ainda assim saber que é bonita. Esses livros se impõem. Não pelo enredo, mas pelo abismo que abrem entre a página e o entendimento. E quando terminamos — ou mesmo quando não terminamos — nos pegamos dizendo que são geniais. Por convicção ou por medo de parecer idiota. Por respeito ou por instinto de autopreservação simbólica.

Talvez não haja nada mais brasileiro do que essa relação com a complexidade literária: um misto de fascínio, intimidação e fingimento. Não por desonestidade, mas por pudor. Porque admitir que algo escapou da nossa compreensão é um gesto raro. Especialmente diante de livros que parecem escritos por seres que habitam uma camada sintática paralela — e que, mesmo assim, nos comovem. Ou pelo menos nos deixam inquietos o suficiente para elogiá-los com a voz trêmula.

E, às vezes, é só isso. Trêmulo, mas honesto.