Nem todo livro clássico é um presente. Alguns são mais parecidos com aquele colega de reunião que fala por vinte minutos, não diz nada e ainda finaliza com um “era isso mesmo, pessoal”. Esta lista é dedicada a eles, os livros que prometem profundidade, mas entregam enfado. Obras que se arrastam, se repetem, giram em torno do próprio umbigo conceitual e, no fim, fazem você se perguntar por que não ficou só vendo vídeo de gatinho mesmo. São títulos que ostentam prestígio, mas que, na prática, testam a sanidade de qualquer leitor que se aventure sem um calmante por perto.
Aqui não se trata de impaciência ou ignorância. O problema não é o tema, é a execução: longas divagações sobre o espírito absoluto, autoanálises intermináveis em clausura religiosa, narradores que mentem tanto que o enredo implode, ensaios que parecem feitas para alunos punidos em sala de aula. É como se os autores fizessem questão de criar labirintos intelectuais, não para compartilhar ideias, mas para provar que podem ser indecifráveis. Se o leitor desiste na página 53, não é culpa dele, é autodefesa. Ler certas obras é como participar de uma dinâmica corporativa onde tudo o que você ganha é sono.
Então, sim: esta seleção é composta por livros chatos. Livros que exigem paciência demais e prazer de menos. Não se trata de dizer que são irrelevantes, muitos têm valor histórico, cultural ou filosófico. Mas vamos ser sinceros: isso não os torna menos insuportáveis. Às vezes, a coragem não está em encarar o Everest do pensamento ocidental, mas em admitir que a leitura está entediante e abandonar sem culpa. Nem toda experiência precisa ser elevada. E se, ao final desta lista, você se sentir exausto, parabéns: foi exatamente essa a intenção.

Um tratado sobre fotografia que começa com promessas de revelações poéticas, mas logo mergulha num emaranhado de conceitos tão subjetivos que fazem o leitor se perguntar se perdeu o fio ou se ele nunca existiu. Barthes escreve como quem conversa consigo mesmo, empolgado por ideias que só fazem sentido dentro de sua própria cabeça, e talvez nem lá. O conceito de punctum, por exemplo, parece brilhar por um parágrafo e desaparecer em dez. A insistência melancólica no luto e na memória pessoal exige do leitor uma paciência quase monástica. O texto, que flerta com a filosofia e a semiologia, se recusa a ser claro como uma boa foto: é enevoado, autorreferente e circular. Ao final, sobra uma sensação de que algo importante passou, mas não pela gente. É como assistir a um slideshow emocional de um estranho que não se importa se estamos entendendo ou apenas fingindo.

Três narrativas sobre mulheres amarguradas que, ao invés de provocar empatia ou reflexão, parecem repetir variações de um mesmo lamento esticado ao limite. O que começa como um mergulho nas dores femininas termina como um ensaio sobre o tédio. A prosa, refinada, é também arrastada, e insiste em girar sobre os mesmos conflitos internos até que qualquer possibilidade de surpresa ou catarse se esgote. As protagonistas, embora bem delineadas, raramente se tornam interessantes: elas são tão prisioneiras de suas frustrações quanto o leitor se torna da narrativa. A obra, talvez relevante em seu tempo, hoje soa datada, pesada e comoventemente desanimadora. Há quem chame isso de realismo cru; outros, de autoflagelo literário. O fato é que cada página parece reforçar o quanto a desilusão pode ser, além de um tema existencial, um método infalível para esgotar a paciência.

Um daqueles livros em que o autor parece divertir-se infinitamente mais do que qualquer leitor possível. Eco constrói um protagonista mentiroso, inserido em uma saga histórica embebida de ironias, digressões e mitologias — mas esquece de equilibrar esse jogo com alguma generosidade narrativa. O enredo é inchado, verborrágico, e exige conhecimento prévio de história medieval, teologia, alquimia e um pouco de latim para não se perder no caminho. A leitura, em vez de divertida ou intrigante, se torna uma batalha de resistência. Cada capítulo se arrasta como uma maratona de piadas internas acadêmicas. As referências são tantas que sufocam a história; as piadas eruditas, quando compreendidas, raramente são recompensadoras. O leitor que chega ao final não celebra a genialidade da trama — apenas agradece por ter sobrevivido a esse delírio enciclopédico com os olhos ainda abertos.

Com o entusiasmo de um neoconvertido e a retórica de um seminarista em êxtase, Merton entrega uma autobiografia espiritual que aspira à elevação, mas frequentemente desliza para o enfado. A estrutura é longa, solene e tão carregada de passagens introspectivas que parece ignorar por completo o leitor contemporâneo. A jornada do autor rumo ao monasticismo poderia ser inspiradora, mas a falta de síntese e a repetição de epifanias transformam o texto numa escada espiral infinita — cada degrau mais monótono que o anterior. A linguagem, ainda que poética, é excessivamente adornada e serve mais à contemplação narcísica do que à partilha sincera. A obra exige do leitor o mesmo espírito de renúncia que ela exalta: renunciar ao prazer da leitura leve, à lógica narrativa e até mesmo à vontade de seguir em frente. É um livro que, ao invés de edificar, cansa como um sermão interminável em latim.

Poucas experiências intelectuais são tão exaustivas quanto acompanhar o raciocínio tortuoso de Hegel nesta obra. Com frases que parecem desafiar as leis da gramática e conceitos que se encadeiam numa espiral de abstrações, o texto impõe um desafio quase físico. A leitura exige não apenas atenção, mas também fé — fé de que, em algum momento, o sentido emergirá. A proposta é ousada: mostrar o desenvolvimento da consciência rumo ao absoluto. O resultado, porém, é um labirinto hermético, onde cada página parece rir da ingenuidade do leitor que acreditou que filosofia poderia ser comunicável. A dificuldade aqui não é um acidente: é o método. O autor transforma o conhecimento em sofrimento, a clareza em miragem. E ainda assim, o mundo o reverencia. Ler esta obra é como subir uma montanha gelada de olhos vendados, torcendo para que, no cume, haja ao menos uma lareira acesa ou um glossário.