7 livros mais citados em perfis do Tinder do que em discussões sérias

7 livros mais citados em perfis do Tinder do que em discussões sérias

Não há nada de errado em amar um livro popular. O problema — se é que é um problema — começa quando o amor vira performance. Quando a presença do título na estante serve menos ao silêncio da leitura e mais ao volume da exibição. Há livros que ganharam, nos últimos anos, uma estranha segunda vida: deixaram de ser lidos com vagar e passaram a ser citados com orgulho automático, em bios e perfis de aplicativo, como se evocá-los bastasse para sugerir certa densidade afetiva ou inteligência cultivada. Curioso — e um pouco triste. Porque essas obras, nascidas da urgência de comunicar algo sobre o mundo ou sobre o íntimo, acabam reduzidas a código. E código, quando não decifrado, vira só ruído.

Sim, às vezes é apenas isso: uma maneira de dizer “sou sensível”, “sou profundo”, “sei o que importa” — sem, necessariamente, mergulhar no que esses livros realmente dizem. Porque poucos querem de fato encarar o desamparo de Orwell, a secura do deserto de Saint-Exupéry, a pulsação selvagem de Brontë. É mais confortável ostentar um nome do que carregar o peso do que ele contém. E, talvez, não se trate de má-fé. Pode ser só cansaço. Ou pressa. Ou medo de se deixar atravessar.

O que assusta não é o uso — mas o vazio. A repetição sem vestígio de leitura real. A familiaridade postiça com títulos que deveriam, em alguma medida, abalar. Mas nada impede que se volte a eles. Que se retire da vitrine o que pertence à intimidade. Que se devolva à leitura seu lugar mais precioso: o da transformação silenciosa. O texto só vive quando encontra, do outro lado, um corpo disposto a se desnortear.

No fim, todo livro importante é um risco. Não se lê impunemente “O Morro dos Ventos Uivantes”. Não se sai ileso de Anne Frank. E quem se entrega a Kundera sabe: a leveza, quando verdadeira, sempre dói um pouco.

Livros não servem para enfeitar o desejo. Servem, talvez, para desorganizá-lo.