7 livros que você finge que leu — mas na verdade, só folheou

7 livros que você finge que leu — mas na verdade, só folheou

Há livros que nos olham da estante com a severidade de uma estátua. Não dizem nada, mas exigem. Não convidam — cobram. E nós, movidos por vaidade ou temor reverente, disfarçamos: lemos a orelha, marcamos uma citação, folheamos três páginas aleatórias e, prontos, carregamos o nome como medalha. Acontece mais do que se admite. Talvez porque certos livros foram feitos menos para serem lidos do que para existirem. Eles respiram a partir do peso simbólico, não do enredo. E quem os escreveu parecia saber disso.

Pense em um romance que começa e termina como um delírio fonético intransponível — ou uma obra-prima da filosofia em que cada parágrafo é uma batalha campal. Pense naquelas narrativas que flertam com o infinito, que se recusam a fazer sentido, que não se rendem à lógica nem ao afeto. Você começa, hesita, resiste… e abandona. Depois finge que leu. Não por cinismo, mas por respeito. Porque é quase bonito fingir diante do que nos ultrapassa.

Outros livros simplesmente cansam. São bons, às vezes geniais, mas se instalam com tamanha solenidade que exaurem. Pedem uma entrega que a vida cotidiana raramente permite. Não têm ritmo — têm tempo. E exigem o nosso. Entre a quarta página e a décima terceira tentativa de retomada, a admiração vira um suspiro resignado. No fundo, você sabe: aquele volume permanecerá como uma promessa jamais cumprida.

Ainda há os que encantam por alguns instantes — um parágrafo, uma ideia, uma voz —, mas depois se tornam inacessíveis. Como se recusassem a ser compreendidos com facilidade. Livros que se fecham em si, como um animal ferido. É preciso chegar devagar, com humildade. E nem sempre a gente consegue.

Esses sete títulos habitam esse território turvo entre o lido e o deixado pra depois. Entre o que se quis muito e o que nunca aconteceu de fato. Alguns são obras geniais. Outros, apenas herméticos. Todos, no entanto, compartilham o mesmo destino: foram mais folheados do que vividos. Mas ficaram. Como um eco. Como um espelho. Como uma dívida que a gente faz questão de não pagar.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.