Queria apagar da memória só pra poder ler de novo — 5 experiências literárias únicas

Queria apagar da memória só pra poder ler de novo — 5 experiências literárias únicas

Há livros que não passam — permanecem. Mesmo depois de fechados, continuam ali, como um perfume no quarto depois da partida, como uma luz acesa por engano que insiste em não apagar. São obras que não cabem apenas na leitura: tomam o leitor de assalto, ocupam a pele, reescrevem o olhar. E o mais curioso é que nem sempre são os livros perfeitos, os mais premiados, os mais bem-acabados. Às vezes, são aqueles com um furo discreto na costura, uma sombra que escapa na última página, uma dor que ninguém explicou. Justamente por isso, talvez, eles fiquem.

Não se trata apenas de gosto ou admiração. É outra coisa. Uma espécie de ligação secreta, daquelas que se formam sem que a gente perceba, como se o livro tivesse esperado a vida inteira para ser lido por alguém específico — e, por alguma sorte torta, esse alguém fosse você. Há momentos em que uma personagem parece falar com sua voz, em que uma paisagem descrita se confunde com um sonho antigo, ou em que um silêncio entre parágrafos pesa mais do que todas as palavras que vieram antes. E quando isso acontece, o mundo muda. Sutilmente, sim. Mas muda.

Depois, vem o luto. O luto por ter terminado. O luto por saber que aquela primeira vez é irrecuperável. E o desejo impossível de apagar tudo — enredo, cenas, desfecho — só para poder reencontrar o livro pela primeira vez, como quem reencontra uma lembrança esquecida da infância. Ler de novo não basta. Reler é outra coisa: é visitar uma ruína, um lugar que ainda ecoa, mas que já foi seu. O que se quer, mesmo, é o espanto inicial. O impacto mudo. O arrepio sem aviso.

É claro que não há como. Mas é bonito desejar. E é isso que certas obras nos ensinam — não só a sonhar, mas a querer o impossível com dignidade. Talvez seja esse o maior elogio que um livro pode receber: ser tão necessário, tão visceral, que nos faria escolher o esquecimento, se isso significasse voltar a amá-lo como se fosse a primeira vez.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.