Dois indivíduos completamente diversos um do outro, dois rios paralelos, se cruzam em algum momento e, se tudo correr direitinho, vão desaguar no oceano plácido da Eternidade. Mas e se as coisas não forem exatamente assim (e quase nunca o são)? É justo essa a magia do amor. Vinicius de Moraes (1913-1980), gênio e um especialista no assunto, disse muito bem em seu “Soneto de Fidelidade” (1946) que o amor, em sendo chama, não pode ser imortal, mas pode ser infinito enquanto os amantes se amarem. Pode ser redundante, óbvio até, mas o amor é mesmo ridículo, como alega o poeta lusitano Fernando Pessoa (1888-1935), outra sumidade no assunto. Há uma tragédia em “Má Influência”, mas bem que poderiam haver mais. O filme da espanhola Chloe Wallace segue a tendência das histórias que começam como comédias (quase) românticas e evoluem para thrillers que flutuam entre a tensão sexual e a prevalência de índoles diabólicas, eivando de maldição aqueles em que tocam. O roteiro de Wallace e Diana Muro está assentado no fluxo de consciência de uma vilã que só se revela na undécima hora, cereja de um bolo meio insulso que só faz voltar a receitas já testadas antes.
Fatos verdadeiramente excepcionais acontecem quando nos contempla a juventude. Nessa etapa singular da vida, momento de descobertas, uma languidez sem nada que a possa aplacar, alegrias pelas coisas mais irrelevantes, desertos de mil solidões que só mesmos podemos atravessar com o cansaço de nossas pernas, estamos vulneráveis aos demônios que fazemos questão de alimentar, e, como se por encanto, um novo raio de sol invade a alma toda trancada e uma promessa de felicidade nos renova. “Má Influência” surfa na onda de livros e filmes sobre os dissabores e as epifanias de gente naquela fase complexa definida pelo ocaso da adolescência e o princípio da vida adulta.
Os conflitos intergeracionais entre um pai superprotetor e uma filha mimada dão o tom do enredo, e aos poucos se começa a saber aonde Wallace quer chegar. Reese Russell, a patricinha da vez, passa a receber ameaças anônimas, que podem vir de algum desafeto do pai, Bruce, um ricaço conhecido pela arrogância invencível. Cheio de possibilidades, o personagem de Enrique Arce é desperdiçado em nome da urgência de se desenvolver o mote central, direcionado à aproximação gradual entre Reese e Eros, um ex-presidiário que Bruce contrata com o intuito de servir de guarda-costas para a moça. Eles não conseguem afinar os ponteiros, claro, e chega a ser vexatória a previsibilidade do que vem a acontecer na sequência, ou seja, a paixão de Reese e Eros, malgrado a falta sintonia entre Eléa Rochera e Alberto Olmo se mantenha.
Se existe uma qualidade nesse subgênero de comédia romântica, as comédias românticas de adolescentes e que tais, é a abordagem do sexo sem muito rodeio. Partindo-se do pressuposto que a classificação indicativa seja sempre respeitada, não há muito com que os pais devam se preocupar, já que no horário nobre da televisão aberta no Brasil aparecem senhoras entediadas se masturbando como se não houvesse amanhã. Contudo, os saidinhos que esperam sexo explícito, closes ginecológicos ou mesmo uma singela nudez frontal, tirem o cavalinho safado da chuva. Voltando ao que importa, para quem é capaz de esperar, os últimos minutos reservam uma grata surpresa, materializada em Peyton, a quem Mirela Balic imprime um charme maldito, muito apropriado, mas insuficiente para que se possa anular o que fora mostrado antes.
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