Não era fácil amar Nana Caymmi à primeira vista. Seu canto vinha de um lugar sombrio, antigo, sem adorno. E sua presença, embora imensa, dispensava afetações. Em um cenário musical que tantas vezes premiou o entusiasmo e a docilidade, Nana atravessou décadas com o olhar direto, a voz firme e uma espécie de soberania silenciosa que causava desconforto — especialmente nos desavisados. Ela não cedia, não suavizava, não fazia questão de ser bem compreendida.
Essa mesma franqueza que moldava sua interpretação — densa, contida, quase teatral em sua contenção — também se manifestava sem filtros na fala. Ao longo dos anos, em entrevistas raras e intensas, soltou frases que desconcertaram repórteres, dividiram opiniões e reafirmaram o que todos que a conheciam já sabiam: Nana não media palavras porque nunca precisou pedir licença para existir. Era como cantava — dura na superfície, mas abissal por dentro. E talvez por isso tenha sido tantas vezes mal interpretada, ou simplesmente temida.
As frases a seguir não devem ser lidas como provocações soltas, mas como fragmentos de uma personalidade indomável. São pedaços de uma artista que se recusou a performar simpatia, que escolheu a sinceridade ainda que a contragosto do público, da crítica, da indústria. Como suas canções, essas palavras carregam uma tensão antiga: entre a dor e o orgulho, entre o riso seco e o abismo. Leia-as com o mesmo respeito que se ouve um silêncio carregado — porque, em Nana, até o silêncio dizia algo.
Se quiser me cancelar, cancela.
— Sobre sua relação com críticas e a cultura do cancelamento.
Sou águas passadas.
— Ao falar de sua distância do cenário musical atual.
Achei que Alice ia dar mel, mas não deu.
— Sobre a carreira da sobrinha, Alice Caymmi.
Elis não podia ver uma cantora nova que se arrepiava.
— Comentando sobre o temperamento competitivo de Elis Regina.
A primeira coisa que a gravadora faz é mandar um produtor desavisado conversar comigo. Aí eu toco ele a tiro.
— Sobre sua aversão à interferência de produtores.
Não sou simpática, sou cantora.
— Resposta a quem cobrava carisma de palco.
Se eu tivesse que seguir tudo que me mandaram fazer, estaria cantando axé em bar de shopping.
— Sobre sua recusa a modismos.
Caetano, Gil, Chico… tudo chupador de pau de Lula.
— Polêmica declaração política que gerou grande repercussão.
Odeio disco com grito.
— Crítica ao excesso de vocalização emocional sem sutileza.
Tem gente que canta bonito. Eu canto verdade.
— Sobre o que distingue uma intérprete de uma cantora.
O Brasil está musicalmente falido.
— Em tom de desalento com os rumos da indústria fonográfica.
Nunca pedi favor a ninguém. E nunca precisei me vender.
— Sobre sua trajetória independente.
A televisão me cansa. Todo mundo parece feliz demais.
— Crítica ao tom artificial do entretenimento televisivo.
Ninguém lembra quem venceu festival. Mas todo mundo lembra quem cantou errado.
— Ironia sobre fama e memória pública.
Tento não dar entrevista. Sempre saio como a malvada da história.
— Reflexo de seu relacionamento tenso com a imprensa.
O Brasil adora abraçar a mediocridade.
— Comentando sobre a recepção a novos artistas.
Não nasci para agradar. Nasci para cantar.
— Um de seus lemas mais repetidos.
Minhas lágrimas secaram no estúdio. O que restou virou bolero.
— Metáfora lírica sobre sua relação com a dor.
Já cantei tanto sobre o tempo que ele cansou de mim.
— Reflexão sutil sobre envelhecimento.
Não acredito em legado. A maioria esquece tudo depois do enterro.
— Crítica crua à efemeridade da fama.