Flávio Assis e seu guia prático para a alegria da vida Divulgação/ Luan Cardoso

Flávio Assis e seu guia prático para a alegria da vida

Coisa de dez anos atrás, um moço chamado Flávio Assis lançou o disco “A Cor da Noite”. Que trabalho bonito, Meu Deus! Uma das faixas do álbum se chama “Festa de santo”. Passei alguns dias morando dentro dela. Eu acho que você me entende. Algumas canções são capazes de descobrir lugares dentro da gente que nos acolhem de mala e cuia. Chegamos com nossas dores e nossos amores, o que temos de mais bonito e o que há de mais odioso em nós são bem-vindos nesse canto escondido. Cabemos todos ali.

Um dia eu acordei lá dentro, abri a janela e vi e ouvi um mundo inteiro lá fora. Tinha batuques africanos ressoando em pracinhas de pequenas cidades, cantigas do recôncavo baiano soprando um vento bom em tardinhas eternas, afoxés celebrando a vida, sambas e maracatus enfeitando as ruas em dia de festa, reggaes e baiões jorrando beleza em todo canto. Tudo isso dentro de um disco de onze canções.

A música de Flávio Assis, baiano de Salvador, salvou minha alegria uma centena de vezes. O que ela me deu é mais do que eu posso agradecer. Volto para dentro dela se estou triste e se estou alegre. Divido sua riqueza com quem passa e isso me enriquece de vida e de luz. Em suas canções, Flávio vai construindo seu guia prático para a alegria da vida.

Flávio Assis
Flávio Assis

São melodias cheias de graça, letras potentes, beleza escancarada. Canções que parecem adivinhar nossas dores e cuidá-las com afeto. Músicas que nos abrem as portas e nos dizem: “se quiser, fique aqui esta noite e amanhã e depois e depois também, venha e se ajeite que a casa é nossa”.

Flávio é um construtor generoso de belezas. Seus discos são cardápios de amores, suas músicas fazem a gente reencontrar gostos perdidos e apreciar prazeres novos.

Ouvindo as suas canções nestes tempos de tantos perigos, penso aqui comigo que existe um Brasil arriscado e sem graça, pisoteado por maldades de todo tipo, maculado pela tônica do dinheiro a qualquer custo que nos embrutece e nos cega para as belezas simples que nada custam.

E há o Brasil dos trabalhadores honestos, das pessoas que se ajudam umas às outras, dos compositores, dos músicos e dos artistas que constroem e cultivam as belezas que não deixam este mundo embrutecer de vez. Esse é o Brasil de Flávio Assis e de tanta gente bela e boa.

É nesse canto do mundo que eu vivo. Aqui eu crio os meus filhos e rego as minhas plantas. Aqui eu escuto as canções de amor à vida dos artistas como Flavio Assis.

Aliás, Flávio está lançando um disco novo neste mês de agosto. Chama-se “Luar-do-Chão”, nome colhido do livro “Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra”, de Mia Couto que se passa na ilha fictícia de Luar-do-Chão. Quanta beleza, Meu Deus. Quanta beleza!