Chico Buarque: as 10 canções fundamentais de um gênio da música

Chico Buarque: as 10 canções fundamentais de um gênio da música

Fotografia: A.PAES / Shutterstock.com

Tem gente gozada nesse mundo. Certa feita, ao assistirmos juntos a um show de Chico Buarque, um amigo comentou assim, meio como se falasse com o próprio útero: “Se eu fosse mulher, cairia fácil-fácil nos braços do Chico”. Eu ri e perguntei se ele sucumbiria ao cantor por causa do par de olhos azuis, pelo seu charme singular e coisa e tal. “Não. Eu seria sua amante por causa da poesia. O Chico é foda…”, emendou.

Comentários surpreendentes à parte, a mim parece que, sem música, a vida seria insuportável, inviável. Eu sigo, portanto, o meu próprio caminho a carregar na memória a obra de uma eclética legião de heróis formada por cantores e compositores, não necessariamente brasileiros, já que a música é tão universal quanto a dor, o amor e uma rima pobre.

Em tempos de diarreia cultural, quando tantas músicas onomatopeicas descartáveis são vomitadas pela mídia, diuturnamente, nos ouvidos das novas gerações, eu percebo que o meu amor pela música não só se fortalece, mas, cresce ainda mais, principalmente quando recorro aos mártires da MPB, como Tom Jobim, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, dentre outros.

Eu sinto pela obra de Chico Buarque um afeto particular pois, foi por meio das suas canções, tanto as românticas quanto as politizadas, que eu me aventurei a cantar, tocar o violão na solidão honesta do quarto ou na euforia manifesta dos saraus e festinhas da minha juventude. Bons tempos aqueles em que eu tive gana, cabelos, fãs volúveis, e sabia tocar de cor mais de cinquenta canções do Chico, sem reclamar de calos nas pontas dos dedos. Meus caros, tenho que admitir: eu era foda.

A Revista Bula convocou os seus leitores para um atrevimento, uma diversão, uma homenagem dentre tantas que virão, a escolha de uma seleção musical para o justo tributo a uma joia da MPB: pedimos para que os nossos leitores elegessem, dentre centenas de composições estupendas, as dez melhores canções de Chico em todos os tempos, as essenciais, as mais belas, as que tocassem fundo na alma, um suposto repertório para Deus ouvir — caso Chico nele acreditasse — durante a happy-hour celestial, sentado numa nuvem, a tomar licor de amarula, exaurido pelas lamentações, desanimado por ter criado o ser humano a sua imagem e semelhança. “Será que sou tão ruim assim?”, teria ele perguntado a um arcanjo.

A lista será, certamente, controversa. Mas, entendam dessa forma, viciados criadores de celeumas: a seleção, per se, é simbólica. Servirá, contudo, como lenitivo àqueles que jamais saciam a sua sede musical. Aquele tipo de música que, a despeito do declarado ateísmo de Chico, comprova a existência de um Criador emanado, não das páginas emboloradas de um calhamaço de parábolas antiquadas e reacionárias, ou da frieza longínqua de uma nuvem vaporosa estacionada no céu, mas, sim, da voz honesta de um cantor ou do som cativante da sua ferramenta de melhorar mundo: o instrumento musical. Ficou assim a lista da Revista Bula.