Crônicas

Contrariando as previsões em contrário, não estamos sendo felizes para sempre

Contrariando as previsões em contrário, não estamos sendo felizes para sempre

Então é isso: a vida acontece. A chuva e o pranto. O parto, a partida, o desencanto. Jornadas sem resposta. Chaves de pernas. Solidão a dois. Alta velocidade e a inexplicável falta de tempo para se gozar as coisas simples. Somos caras, caretas, beijos e muita gostosura. Vaidade é o que somos. Há a letargia dos que riem de tudo. Há a liturgia da angústia que ainda viceja em vários, apesar de séculos de história.

Pare de aborrecer a vida dos outros com sua dieta

Pare de aborrecer a vida dos outros com sua dieta

Que o mundo está povoado de gente chata nós já sabemos. Nas redes sociais, felizmente há estratégicas opções de fuga: desfazer amizade, ocultar publicações, bloquear usuário… Bom seria se a vida real viesse com botão “ignorar pela próxima meia hora” sem que isso causasse uma enxurrada de mal-estar. Nada resta a nós, miseráveis, senão fugir ou comprar a briga cara a cara.

O que o Parkinson e a força de minha avó me ensinaram sobre a vida

O que o Parkinson e a força de minha avó me ensinaram sobre a vida

Há duas maneiras de se encarar o fim. Uma é morrendo. A outra é recusando a primeira. Minha avó escolheu a recusa e tem bancado a escolha. Há 20 anos minha família se viu obrigada a conviver com a palavra “degeneração”. A nós, no entanto, foi destinada a parcela menos severa do problema. Minha avó foi forçada a aceitar a convivência de fato dolorosa. E aceitou. Não se trata de resignação. Esse termo não combina com quem resolveu lutar todos os dias pela vida, como se esta ainda fosse uma opção divertida. Mas até em gente assim, que consegue animar a mente enquanto o corpo dá adeus, o Parkinson é avassalador.

A vida começa quando decidimos parar de agradar a plateia

A vida começa quando decidimos parar de agradar a plateia

É certo que a arte imita a vida. Muitos vivem quase que exclusivamente para atender às expectativas do público, seja por uma questão de vaidade, jogo exibicionista, ou porque acreditam dever constantemente ao outro a condição de servir — sob o custo da angústia e do desespero diante da anulação da própria existência. Aquele que faz tudo para agradar a todos enquanto se desagrada sentirá, cedo ou tarde, o arrombo no peito tomado por um vazio existencial.

Fomos comemorar a vitória de Donald Trump num prostíbulo

Seria ótimo que vocês, observadores imunes aos caos da ficção, lessem isso aqui ao som de “Harlem Shuffle”, dos Stones, no volume máximo, por obséquio. Era o mínimo que poderiam fazer por mim. Pra meterem logo o pé na jaca, pra entrarem com tudo no clima da história, pra embarcarem na trama, pra sentirem o cheiro de suor, de porra e de bagana, pra imaginarem aquela penca de mulheres nuas e bacanas rebolando dentro de jaulas de mentirinha facilmente violáveis, pra visualizarem em suas cabecinhas o cenário tosco que era aquele muquifo renegado por Deus e pelos órgãos sanitários do município.