Autor: Revista Bula

No dia em que completou 36 anos, ela decidiu que não haveria mais manhã seguinte. Antes, escreveu a própria tragédia

No dia em que completou 36 anos, ela decidiu que não haveria mais manhã seguinte. Antes, escreveu a própria tragédia

Filha ilegítima num país em convulsão, Florbela Espanca cresceu entre silêncios e salas de visitas que mediam cada gesto. Estudou, casou-se três vezes, divorciou-se quando isso custava reputação, escreveu do corpo e pagou o preço. Perdeu o irmão, enfrentou consultórios e noites em claro, sustentou a própria voz numa república instável e sob a sombra que antecedeu o Estado Novo. No aniversário de 36 anos, em Matosinhos, escolheu o fim.

Ela foi a primeira mulher a vender 100 mil discos de samba. Venceu a fome e o machismo. Morreu aos 40 anos, de forma absurda

Ela foi a primeira mulher a vender 100 mil discos de samba. Venceu a fome e o machismo. Morreu aos 40 anos, de forma absurda

Em 1983, o Brasil aprendeu a esperar à porta de um hospital e, com a notícia, ganhou um silêncio que ainda marca o peito. Esta crônica acompanha Clara Nunes da infância em Paraopeba à consagração no Rio, atravessa quadras, estúdios e televisão, visita a clínica, o velório na Portela e o rastro que ficou na música e na vida comum. Sem mitificar, nomeia feridas, gestos e decisões de som. O resultado é um retrato com rito, respeito e futuro, atento ao país que ela afinou.

Casou aos 12. Foi mãe aos 13. Perdeu dois filhos para a fome. E fez da dor um monumento

Casou aos 12. Foi mãe aos 13. Perdeu dois filhos para a fome. E fez da dor um monumento

Elza Soares nasceu em 1930, no Rio das periferias invisíveis, e atravessou um século em que governos apararam vozes e prometeram modernização com fome. Saiu de um barraco de madeira e zinco para palcos sob censura, recolheu-se quando precisou respirar, voltou com fôlego inteiro e ocupou espaço. Na velhice, reinventou-se, enfrentou moralismos, devolveu trabalho. Fez da própria vida uma leitura do país: dor sem espetáculo, alegria sem máscara, música como sobrevivência.

O escritor que escancarou os quartos fechados do Brasil e pagou caro: geladeira magra, aluguel vencido e o esquecimento como salário

O escritor que escancarou os quartos fechados do Brasil e pagou caro: geladeira magra, aluguel vencido e o esquecimento como salário

Ele veio do interior para uma cidade de bondes e procissões, encontrou aliados discretos e um país à beira de reformas. Entre redações e pensões, aprendeu a reconhecer o corte entre desejo e convenção. No palco, ofereceu centralidade a quem fora empurrado para a lateral. No cinema, desenhou sombras sem alarde. Quando o corpo falhou, ensinou a mão esquerda a continuar. A polícia vigiava, a moral apontava dedos; ele anotava. O tempo confirmou o alcance. A casa ficou, e a língua dele continua acesa. O país guardou silêncio e aprendeu.

Chamado de louco. Morto na miséria. O poeta maldito que o Brasil abandonou na calçada

Chamado de louco. Morto na miséria. O poeta maldito que o Brasil abandonou na calçada

Maranhense de 1832, Joaquim de Sousa Andrade atravessou estantes novas, repartições lentas, uma temporada europeia de estudos e sete anos em Manhattan, onde trabalhou em imprensa lusófona e aprendeu a decifrar a cidade a pé. Voltou em 1879, tentou cargos e reformas, desenhou a bandeira do estado, empobreceu, morreu em 1902. Os cadernos ficaram. Nos anos 1960, editores e poetas reabriram as pastas e o retrato se endireitou.