Realizador talentoso (e megalômano), Peter Jackson faz do bom e velho “King Kong” uma experiência, digamos, sui generis. Ninguém duvida que o diretor, o grande responsável pelo sucesso da trilogia “O Senhor dos Anéis”, tenha sempre muita bala no tambor, mas em sua releitura do clássico sobre o gorila pantagruélico que ataca a civilização, ele exagerou na dose.
O que se assiste em “O Sono da Morte”, de Mike Flanagan, entretanto, é que a vida muitas vezes segue por caminhos tão imprevisíveis; avultam circunstâncias tão surpreendentes; sobrevêm-nos perigos e nos vemos forçados a tomar atitudes tão fora de propósito e em pleno desacordo com nossa própria natureza que ninguém é capaz de dar nenhuma garantia quanto a se chegar a bom termo no que diz respeito a qualquer promessa de final feliz.
Um aspecto menos óbvio em “Truque de Mestre” é a incansável disposição de seus protagonistas em se fazer destacar a qualquer custo, o que confere uma graça involuntária (e vital) ao filme. Louis Leterrier capta muito bem esse espírito meio junkie de personagens que topam tudo por um momento de fantasia, de escape da realidade ou só por um jogo um pouco mais arriscado mesmo.
O delírio pairando sobre a realidade sisuda, pronto para tartamudear a litania lírica e lúgubre da loucura; os esforços inúteis do homem comum em sua saga triste por livrar-se do amanhã invencível; a fronteira que não se revela, mas aparta o caos do inferno: em todos os 15 filmes que congregamos na lista abaixo, disponíveis na Netflix, nota-se, de uma forma ou de outra, essa dicotomia essencial da alma humana.
Os preciosismos do roteiro de Ted Tally, baseado no livro de Thomas Harris, de 1981, são muito bem aproveitados por Ratner, que se vale de uma câmera aérea sobranceira, que vira a cena como uma rainha esperando o desfile de seu séquito — e ele acontece. O mestre de cerimônia dessa solenidade é Anthony Hopkins, que usa de todo o physique du rôle de que dispõe a favor de Hannibal Lecter; gênio em seu ofício, Hopkins não hesita em lançar o fogo-fátuo de seus grandes olhos azuis sobre um pobre músico durante um recital.
