Dos espinhos às flores: a dicotomia da vida

Dos espinhos às flores: a dicotomia da vida

“Pra não dizer que não falei das flores” — canção composta no ano conturbado de 1968 —, por Geraldo Vandré. A música de melodias belas, porém fortes, tem uma mensagem muito nítida: jovens lutando pela liberdade contra opressões que lhes eram impostas. Vandré, com uma sensibilidade única, transformou esses momentos em um hino cantando por milhares de vozes em busca de um único sentimento: esperança. Esperança por dias melhores!

Transcorridos exatos 48 anos, a canção ainda nos faz refletir sobre a importância de lutarmos por nossas convicções, por nossos propósitos. O passado e o futuro se confundem no presente, pois não entendemos que só se constrói uma sociedade justa e solidária com a fusão de dois pilares: democracia e consciência de seus cidadãos. Na teoria, parece algo bem simples; entretanto, na prática, não. Não, por um motivo notório: não respeitamos a diversidade. Respeitamos e lutamos pelos nossos ideais (individuais). Desculpem-me, mas, com raras exceções, o sentimento que mais aflora em nós, infelizmente se chama: egoísmo.

Não posso prosseguir “caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não”, principalmente no trecho — “somos todos iguais braços dados ou não”. Como caminhar buscando a defesa de direitos, se, como exposto, o egoísmo se exterioriza em nós? Sim, visto que não sabemos nos portar como cidadãos, e, acima de tudo, não sabemos praticar a cidadania. Aliás, cidadania se constrói no próprio exercício da cidadania. Assim, a praticamos nos mais diversos espaços possíveis: na rua, no trabalho, escola, em casa. Se nesses locais há relações autoritárias, atitudes como falta de respeito, ausência de compromisso com o bem comum, e, principalmente, atitudes individualistas, todo o discurso sobre cidadania será em vão.

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. A mudança só acontecerá quando aprendermos a sair da zona de conforto. Afinal não se mudam injustiças, ignorâncias, ficando em silêncio. Às vezes, o meu silêncio pode ser interpretado como uma omissão. Omissão de valores, omissão de deveres. Enfim, para muitos — principalmente aqueles dos discursos inflamados, sem nexo com a realidade democrática —, essa omissão é dita como vitória; vitória dos discursos que pregam ódio, preconceito, racismo, desigualdade…

“Aprendendo e ensinando uma nova lição”. Aqui, não só o Vandré, porém, todos os que lutam pela liberdade e igualdade, nos deixam uma mensagem bem simples e direta: “A lição essencial sempre será a luta pelo amor”. Não quero caminhar carregando a bandeira preta, azul, vermelha, verde, amarela… Ou ideologias de ordem alfabética. Quero caminhar carregando a bandeira da cor universal chamada amor. Quero caminhar carregando a ideologia que se soma a todos. Sabemos que não é a cor, não é o ter, não é o ódio que nos tornarão pessoas melhores. A essência do ser humano está em sua alma e coração. Portanto, amor, solidariedade, bondade e respeito merecem revanche. O contrário jamais. “O essencial pode ser invisível aos olhos”; contudo, o amor não. Este deve ser — visível — aos olhos, seja caminhando, cantando, de braços dados ou não!