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Documentário na Netflix expõe o lado sombrio de uma conselheira familiar aclamada nas redes Divulgação / Netflix

Documentário na Netflix expõe o lado sombrio de uma conselheira familiar aclamada nas redes

Não é nenhuma novidade que as redes sociais transformam promessas em mercadoria, vendendo soluções fáceis para problemas complexos. Postagens breves de discursos sedutores mostram a alternativa para fracassos, que parecem um verdadeiro atentado à própria existência, como se tivéssemos que acertar sempre. Pais atordoados delegam a mentores a educação de seus filhos, e nesse terreno pantanoso medram figuras como uma coach parental cuja ascensão causa espécie depois que se assiste ao documentário que acaba de estrear na Netflix. O que Skye Borgman revela em “Influencer do Mal: A História de Jodi Hildebrandt” é mais um daqueles horrores que precisam ser expostos para que não duvidemos da crueldade e da loucura.

Em 30 de agosto de 2023, um garoto de doze anos desencadeou um dos maiores escândalos policiais dos Estados Unidos ao vagar pelas ruas de Ivins, uma cidadezinha de Utah, no sudoeste americano, desnutrido e com ferimentos nas mãos e pernas. Quando bateu à porta da terceira casa, faminto e com medo, a polícia constatou tratar-se de um dos seis filhos de Ruby Franke, uma youtuber que ganhava a vida com conteúdos sobre maternidade no 8 Passengers, canal administrado por ela e o marido, Kevin. Há algum tempo, Franke havia se tornado sócia de Hildebrandt no ConneXions, um programa de aconselhamento de bem-estar que assegurava combater ansiedade, medo e depressão, promovendo “cura” e “liberdade” — curiosamente depois que seus seguidores passaram a questionar a maneira como educava a prole. O Mães da Verdade, a conta delas no Instagram, veio em seguida.

Membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Hildebrandt costumava abordar tópicos a exemplo de sexo antes do matrimônio, pornografia e homossexualidade como males a serem exorcizados, faces do próprio demônio, que se manifestava pelo medo e pela vergonha. Borgman registra o poder de convencimento da influenciadora, que cobrava até 175 dólares por hora para prestar consultorias a gente fragilizada, que acabava decaindo de vez ao abandonar casamentos longevos por ceder ao extremismo de Hildebrandt. O fascínio que ela pôde exercer sobre Franke é, sem dúvida, o ponto alto de um legado devastador, responsável por distorcer a percepção das vítimas com tal força que elas se creem merecedoras de todo castigo, divino ou não. Em fevereiro de 2024, Jodi Hildebrandt e Ruby Franke foram condenadas a penas que somam trinta anos de prisão por abuso infantil agravado. Hildebrandt promete voltar.

Filme: Influencer do Mal: A História de Jodi Hildebrandt
Diretor: Skye Borgman
Ano: 2025
Gênero: Crime/Documentário
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.