O reencontro com Derry parte de uma premissa direta: o mal não foi vencido, apenas adiado. Bill Denbrough retorna à cidade após uma tragédia brutal que reabre antigas feridas e convoca os demais membros do Clube dos Perdedores. Beverly Marsh, agora presa a uma relação violenta, Eddie Kaspbrak, refém de suas neuroses, Richie Tozier, escondido atrás do sarcasmo, Ben Hanscom, bem-sucedido e solitário, e Mike Hanlon, o único que jamais partiu, são forçados a encarar a promessa feita na infância. Pennywise ressurge como força insistente, menos interessado em matar do que em corroer aquilo que o tempo tentou cicatrizar. A proposta não é o susto imediato, mas a reativação do trauma.
Memória como estrutura e armadilha
A narrativa alterna constantemente entre passado e presente, insistindo em revisitar a infância como se o horror precisasse de reapresentação contínua. Essa escolha enfraquece parte da tensão, pois o retorno frequente aos mesmos gatilhos dilui o impacto. Mike, vivido por Isaiah Mustafa, funciona como eixo da trama, guiando o grupo por um ritual que exige confrontos individuais com lembranças enterradas. Algumas dessas passagens carregam peso real, como o reencontro de Beverly com a casa da infância, enquanto outras soam redundantes, alongando um percurso que já teve seu sentido estabelecido.
O humor como escudo e ruído
Richie Tozier se torna o centro emocional inesperado do filme. Bill Hader constrói um personagem dividido entre o riso automático e uma dor silenciosa que finalmente ganha forma. Suas piadas funcionam como mecanismo de sobrevivência, mas o texto frequentemente erra o compasso ao inserir comentários cômicos em momentos que pediam contenção. O resultado é um tom instável, que às vezes transforma cenas de ameaça em alívio desconcertante. Ainda assim, quando o humor cede espaço à vulnerabilidade, Richie oferece os momentos mais honestos da história.
Pennywise e o desgaste do excesso
Bill Skarsgård retorna como Pennywise com a mesma fisicalidade inquietante, mas o impacto já não é o mesmo. A criatura surge em abundância, mutável demais para manter o mistério. O acúmulo de formas e confrontos reduz o medo à exposição contínua. A revelação de sua natureza final carece de densidade simbólica, e o embate decisivo opta por uma solução verbal que esvazia a ameaça construída. O terror, antes psicológico, acaba domesticado.
Crescer não é vencer
Apesar das falhas, “It: Capítulo 2” encontra força ao reconhecer que amadurecer não significa superar. Bill James, Eddie e Beverly não derrotam o passado; aprendem a nomeá-lo. O sacrifício final de um dos membros do grupo reforça a ideia de que nem todas as histórias admitem fechamento confortável. Derry permanece como espaço contaminado, e o medo, como herança. O filme falha como horror puro, mas se sustenta como relato sobre cicatrizes que o tempo não apaga, apenas ensina a carregar.
★★★★★★★★★★




