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Chegou na Netflix: o suspense de M. Night Shyamalan que parece normal por 10 minutos — e depois não solta mais Divulgação / Blumhouse Productions

Chegou na Netflix: o suspense de M. Night Shyamalan que parece normal por 10 minutos — e depois não solta mais

A viagem nasce de um gesto que parece simples e, por isso mesmo, arriscado: confiar. Becca e Tyler aceitam passar uma semana com os avós que a mãe não vê há anos, levando apenas a promessa de um reencontro que ela mesma não consegue sustentar de perto. Em “A Visita”, Olivia DeJonge, Ed Oxenbould e Deanna Dunagan, sob a direção de M. Night Shyamalan, seguem dois irmãos que chegam a uma casa isolada e precisam decidir, a cada dia, o que é excentricidade e o que é ameaça, para manter contato com a mãe e não ficar presos às regras da casa.

Os avós recebem os netos com comida, elogios e gentileza, mas também com regras. Eles decidem impor horário para dormir e proíbem circulação pela casa depois de certo momento, explicando como cuidado com idosos e como proteção contra acidentes. Becca escolhe aceitar sem discussão, motivada por educação e pelo desejo de não sabotar a visita antes de entender o terreno. O obstáculo é que a regra redesenha o espaço: portas viram limites e o corredor vira zona proibida. O efeito é imediato, porque qualquer ruído noturno passa a significar uma decisão: obedecer, fingir que não ouviu, ou investigar.

A câmera como prova e pressão doméstica

Becca decide filmar a semana como registro caseiro, com entrevistas e observações do cotidiano, para devolver à mãe uma prova concreta de que a família ainda existe. A motivação mistura afeto e controle, porque filmar dá contorno à ansiedade e cria um plano próprio quando o ambiente parece sem mapa. O obstáculo aparece na reação dos anfitriões: a câmera é bem-vinda quando confirma a imagem de avós afetuosos e vira incômodo quando perguntas encostam no passado. O efeito é que a garota começa a tratar respostas como pistas, separando o que é dito do que é evitado, e isso muda a relação com os avós.

Tyler escolhe a comédia como modo de sobrevivência social. Ele improvisa rimas, inventa pequenos jogos, transforma constrangimentos em piada, e por alguns minutos a sala relaxa, como se o riso pudesse devolver normalidade ao jantar e à conversa. A motivação é imediata: reduzir tensão e ganhar tempo para a semana passar sem confronto. O obstáculo é a oscilação dos avós, que podem rir e, logo depois, exigir silêncio e obediência com uma firmeza que não combina com a recepção calorosa. O efeito é que a graça funciona como anestesia curta e, quando passa, deixa os irmãos mais atentos ao que tentavam ignorar.

Noites, protocolo improvisado e isolamento

As noites começam a mudar o peso do dia. Depois de um episódio em que a regra de permanecer no quarto vira disputa direta, os irmãos decidem adotar um procedimento próprio: manter o telefone carregado, testar sinal em horários fixos, anotar o que ouviram e combinar que ninguém abre a porta sem confirmar a voz do outro. A motivação é autoproteção, porque o adulto responsável não está ali e os anfitriões são, ao mesmo tempo, abrigo e risco. O obstáculo é concreto: a casa é afastada, e a ajuda mais próxima pode exigir atravessar estrada e pedir socorro a desconhecidos, algo que eles não planejaram.

Becca para de filmar por um instante para escutar a casa com atenção. Tyler percebe que o humor não preenche mais o silêncio. Eles trancam a porta e esperam.

Contato com a mãe e controle do tempo

Quando a visita começa a ameaçar o cronograma combinado, Becca decide avisar a mãe com precisão, não com delicadeza, porque entende que a informação precisa chegar antes que a casa feche as últimas brechas, ou melhor, antes que os avós consigam transformar cada gesto de cautela em culpa e cada tentativa de ligação em desrespeito. A motivação é clara: encurtar a distância com fatos e preparar uma saída possível. O obstáculo é que comunicar exige privacidade e exige tempo, e o tempo é controlado por quem ocupa a casa com presença constante e com perguntas que interrompem a ligação.

Shyamalan prende essa pressão ao ponto de vista que Becca escolhe ao filmar. Como o registro é feito pelos irmãos, muita coisa chega por som antes de chegar por imagem, e o quadro corta o que está fora do quarto, do corredor, do alcance de uma lanterna improvisada. Essa limitação altera a informação disponível e faz o perigo parecer mais perto do que a imagem confirma, obrigando o público a decidir junto com eles quando recuar e quando avançar. A motivação dramática está dentro do enredo, porque filmar serve para registrar e para convencer, mas também revela o custo de olhar demais.

Já perto do retorno combinado, a semana já não é um encontro familiar, é uma sequência de escolhas rápidas. Becca decide priorizar rota, porta e comunicação, e Tyler decide seguir sem bravata, aceitando que a próxima ação precisa ser simples e coordenada. O obstáculo permanece o mesmo, isolamento e autoridade doméstica, mas agora cada minuto pesa. O efeito imediato se concentra em objetos que não negociam: a maçaneta fria, a linha muda no celular, o relógio da cozinha avançando enquanto alguém anda no corredor.

Filme: A Visita
Diretor: M. Night Shyamalan
Ano: 2015
Gênero: horror/Mistério/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★