“Uma Aventura Animal: A Jornada para Casa” se ancora numa convicção antiga e perigosa: a de que a natureza exuberante resolve tudo. Logo nos primeiros minutos, o filme confia mais no verde das florestas canadenses e no som da água correndo do que na solidez do que está sendo contado. O ponto de partida é promissor. Royce Davis, vivido por Steve Byers, retorna do Afeganistão cego e emocionalmente fragmentado. Ele vai buscar os filhos, Max e Erin, interpretados por Zackary Arthur e Morgan DiPietrantonio, que estavam sob os cuidados da tia Susan, papel de Natasha Henstridge, em uma região isolada. O deslocamento de barco, que deveria ser apenas um detalhe logístico, vira o gatilho de uma sequência de decisões questionáveis que o roteiro parece não perceber como problemáticas. A tragédia acontece rápido demais e, quando o capitão Boggs, interpretado por Colin Fox, sofre um ataque cardíaco, a narrativa já se coloca em terreno instável.
Sobrevivência sem lógica e emoção sem lastro
Após o acidente, Royce fica isolado na mata com Chinook, o malamute que pertence a Susan. A partir daí, o filme tenta construir tensão apostando na precariedade extrema: um homem cego, poucos suprimentos e um animal que, convenientemente, assume funções que jamais lhe foram ensinadas. A atuação de Steve Byers sustenta esse núcleo com dignidade, especialmente nos momentos em que o personagem precisa negociar orgulho e fragilidade. O problema é que o texto não acompanha o ator. As escolhas de sobrevivência beiram o absurdo, e qualquer espectador minimamente familiarizado com o ambiente selvagem percebe falhas gritantes. A aparição de um leão-da-montanha surge mais como recurso desesperado do que como consequência orgânica da situação. Chinook, curiosamente, se torna o elemento mais crível da história, não por milagre narrativo, mas porque o silêncio do animal comunica mais do que muitos diálogos artificiais.
As crianças, o heroísmo precoce e a pressa do discurso
Enquanto Royce luta na floresta, Max e Erin decidem ignorar as autoridades, lideradas por Captain Walker, interpretado por John Tench, e partem sozinhos em busca do pai. Max assume o papel de pequeno especialista em sobrevivência, com um repertório de habilidades que desafia qualquer lógica etária, enquanto Erin é escrita como o contraponto desastrado, quase um obstáculo ambulante. A dinâmica entre os irmãos poderia render conflitos interessantes, mas o roteiro prefere atalhos. Tudo acontece rápido demais, como se houvesse medo de que o público se distraia. O discurso ambiental aparece de forma protocolar, sem profundidade real, funcionando mais como selo de intenção do que como reflexão genuína. A aventura familiar que se desenha parece cumprir tabela, sem ousar tensionar suas próprias contradições.
Quando o conforto fala mais alto que o risco
“Uma Aventura Animal: A Jornada para Casa” revela um filme que escolhe o caminho seguro da comoção previsível, mesmo quando flerta com temas densos como deficiência, trauma de guerra e responsabilidade parental. O reencontro entre Royce e os filhos chega sem o impacto que deveria ter, não por falta de emoção, mas por excesso de facilidades narrativas. A floresta permanece linda, imponente e indiferente a tudo isso. Talvez seja essa a ironia maior: o cenário oferece complexidade e perigo reais, enquanto o roteiro prefere simplificar conflitos que pediam mais coragem. O resultado é um filme que agrada pela superfície e frustra quem espera algo além do conforto visual.
★★★★★★★★★★





