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Dirigido e estrelado por Dolores Fonzi, drama jurídico argentino no Prime Video revive caso central na luta contra as leis antiaborto Divulgação / Amazon MGM Studios

Dirigido e estrelado por Dolores Fonzi, drama jurídico argentino no Prime Video revive caso central na luta contra as leis antiaborto

Baseado no livro de Ana Correa, “Somos Belén“, lançado em 2019, o longa-metragem dirigido e estrelado por Dolores Fonzi narra a história de Julieta (Camila Plaate), uma jovem de origem humilde, que chega a um hospital na cidade de Tucumán com dores abdominais. Sem saber que está grávida, sofre um aborto espontâneo, passa por cirurgia e, ao acordar da anestesia, é acusada de infanticídio. Levada pela polícia e colocada sob um julgamento injusto e cheio de erros, Julieta é condenada a oito anos de prisão.

A história de Julieta chega ao conhecimento da advogada Soledad Deza (Fonzi), que decide assumir o caso e recorrer da decisão da Justiça. Nas mãos de Soledad, o processo ganha notoriedade na mídia e, como Julieta havia pedido para manter-se anônima, recebe o codinome de Belén. O julgamento de Julieta torna-se um tema de debate público e passa a levar centenas de milhares de mulheres às ruas em protestos contra as leis antiaborto.

Soledad não apenas descobre diversas inconsistências em provas, documentos e depoimentos, que distorcem o local do aborto, o sexo do bebê e quantas semanas de gravidez, como percebe testemunhos cujas informações não batem em um processo fabricado para incriminar Julieta por um falso crime em razão de ela ser pobre e sem estudo. A injustiça do processo chama a atenção da mídia e da população, mas não apenas isso, coloca no centro do debate a importância de se discutir o aborto. Enquanto ele é legalizado para quem tem dinheiro para pagá-lo de forma segura em clínicas especializadas, quem é pobre precisa correr riscos em clínicas clandestinas e sob métodos monstruosos.

Técnicas utilizadas

O thriller judicial reúne material do livro com entrevistas a pessoas reais, documentos e depoimentos, transformando o roteiro em um instrumento de reflexão e crítica do modelo de reprodução na Argentina e no resto do mundo. Com iluminação naturalista e planos longos, o longa-metragem preza pelo realismo, dando quase ares de documentário à trama. Embora tenha sido inspirado em uma história real, o caso de Julieta retrata inúmeras mulheres que ao longo de décadas sofreram com as rígidas leis de reprodução que refletem mais um preconceito social que uma preocupação genuína com crianças e mulheres.

“Belén“ é um filme que vale a pena. Com drama e tensão do início ao fim, o longa-metragem nos faz pensar sobre inúmeros casos similares invisibilizados e que terminaram em injustiças.

Filme: Belén
Diretor: Dolores Fonzi
Ano: 2025
Gênero: Crime/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.