“Todo Mundo Ama Jeanne” é uma anti-rom-com. Coprodução entre França e Portugal, é o longa-metragem de estreia de Céline Devaux, que tem formação em animação pela Escola Nacional de Artes Decorativas de Paris e, por isso, o filme combina cenas com animações que traduzem, de forma humorística, os fluxos de pensamentos caóticos da protagonista, Jeanne, interpretada por Blanche Gardin.
Embora seja naturalmente engraçado, sem necessidade de esquetes ou piadas óbvias, o filme centra-se no drama de Jeanne, que vive um momento de fracasso pessoal. Solteira, aos quarenta e poucos anos, ela acaba de passar por uma vergonha nacional ao ver seu projeto de limpeza dos oceanos fracassar. Um vídeo dela pulando no mar para tentar salvar um aparelho que fabricou com investimentos internacionais viralizou de tão absurdo. Agora, sem emprego e falida, depois de seu projeto dar errado, ela precisa voar até Lisboa para vender o apartamento da mãe, que morreu há um ano.
Protagonista em crise
O retorno a Lisboa é um reencontro com o passado, já que o apartamento foi onde cresceu. Também é encarar o fantasma de sua mãe, que cometeu su1cídi0. Lidar com as lembranças de um passado que não volta mais, além de enfrentar o fracasso pessoal, não tem sido fácil para Jeanne, que tem sentido sintomas de ansiedade, depressão e pânico.
Retornar a Lisboa é também reencontrar Vítor, encarnado por Nuno Lopes, um amor do passado, e também Jean (Laurent Lafitte), com quem estudou na escola. Jean é um sujeito intrometido, vigarista e um tanto bem-humorado, que confessa ter alimentado uma admiração por Jeanne durante a adolescência. Ele a ajuda a compreender seus sentimentos confusos e complexos e a aceitar suas dores.
Drama com leveza
Apesar do peso dramático da trama, o enredo se encarrega de tornar toda a narrativa leve e descontraída, fazendo-nos rir de Jeanne, em vez de chorar com ela. Aliás, Jeanne não chora, apesar de sua angústia interna. Ela é uma sujeita durona, que mantém suas fragilidades sob uma armadura quase impenetrável, não fosse a insistência de Jean. As animações que expressam os pensamentos de Jeanne provocam uma conexão com o espectador, que se relaciona com as emoções da protagonista.
A fotografia destaca ângulos abertos e coloca a protagonista em ambientes coloridos, embora ela seja uma pessoa naturalmente sóbria e discreta. Essas opções reforçam a ideia de que Jeanne está deslocada, perdida e desconectada do mundo ao seu redor. “Todo Mundo Ama Jeanne” é uma experiência deliciosa e leve, inteligente e, ao mesmo tempo, não exige muito esforço do espectador, apenas um pouco de confiança e entrega emocional à história de uma adulta em fase tardia de amadurecimento. Afinal, é assim que todo millennial se sente hoje em dia: ainda tentando não fracassar, descobrindo quem é e tentando aceitar a si próprio.
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