No campus, Gatsby Welles promete a Ashleigh Enright um fim de semana perfeito em Manhattan, com hotéis, música e uma chuva que ele trata como charme. Antes mesmo de ela descer do carro, já existe outra agenda. Em “Um Dia de Chuva em Nova York”, Timothée Chalamet, Elle Fanning e Selena Gomez atuam sob a direção de Woody Allen, e o conflito central aparece quando Gatsby tenta manter o romance num roteiro fechado enquanto Ashleigh segue compromissos profissionais que se multiplicam ao longo do dia.
Gatsby decide conduzir a viagem como quem dirige uma cena. Ele escolhe o programa, descreve lugares que admira e tenta enquadrar a cidade num circuito de nostalgia e bom gosto, com a certeza de que a chuva melhora tudo. A motivação é dupla: impressionar Ashleigh e reafirmar a identidade de herdeiro que conhece Manhattan por dentro, não como visitante. O obstáculo é concreto: o tempo fecha, o trânsito impõe espera, e a cidade não se move no ritmo dele. O efeito é que cada desvio vira irritação, e o passeio vira teste de paciência.
Ashleigh entra no circuito de bastidores
Ashleigh, por outro lado, decide priorizar a entrevista que ganhou para o jornal da faculdade. Ela aceita encontrar um diretor famoso porque entende que aquela conversa vale mais do que um passeio e pode render portas abertas depois. A motivação é ambição e curiosidade, com a energia de quem quer participar de um mundo maior. O obstáculo é que o cineasta está em crise, fala demais, muda de ideia, empurra a entrevista para outros endereços e oferece novos encontros. O efeito é que Ashleigh passa a seguir o fluxo e se afasta de Gatsby sem medir o custo.
Separado, Gatsby decide esperar sem fazer cena. Ele anda, entra em cafés, tenta ocupar o tempo como se estivesse no controle. A motivação é orgulho: persegui-la seria admitir dependência e aceitar que o plano desandou. O obstáculo é que Manhattan devolve pessoas do passado, convites improvisados e perguntas inconvenientes sobre a vida dele e sua família. O efeito é um desvio inevitável: em vez de namorado, ele vira personagem solto na cidade, exposto ao acaso e ao julgamento alheio.
Ashleigh também escolhe, a cada convite, não dizer não. Ela acompanha o diretor a reuniões, aceita conversar com um roteirista, entra em ambientes onde todos parecem atuar, mesmo quando pedem sinceridade. A motivação é não perder a oportunidade e não parecer provinciana diante de gente mais velha e segura. O obstáculo é que cada gentileza tem interesse por trás, e o tempo dela deixa de pertencer ao plano do casal. O efeito é uma cadeia de equívocos que a coloca em situações nas quais ela já não controla o que é flerte e o que é trabalho.
A chuva engrossa e o romance se desfaz
A chuva engrossa. O guarda-chuva vira ferramenta. Gatsby decide ligar pouco, mandar mensagens curtas, manter a pose. Ele tenta. Falha. Recomeça. A motivação é não parecer carente. O obstáculo é o silêncio prolongado e a sensação de que a cidade inteira vê sua espera, principalmente quando conhecidos cruzam a rua e pedem explicações. O efeito é um humor oscilante, entre a comédia de um jovem contrariado e a irritação de quem percebe que não controla nem o clima nem a namorada.
Numa dessas voltas, ele encontra Chan Tyrell, irmã de uma ex, e decide aceitar companhia. A motivação é simples: falar com alguém que não compra sua imagem e não pede explicação elegante. Chan, por sua vez, decide testar a vaidade dele, apontar contradições e rir das frases prontas que ele repete sobre Manhattan. O obstáculo é que Gatsby, acostumado a dirigir as relações, encontra resistência e ironia. O efeito é que a cidade se abre de outro jeito: menos como cenário e mais como lugar onde ele precisa responder, não encantar.
Do outro lado, Ashleigh decide continuar circulando, mesmo quando percebe que o dia já não tem volta. Ela bebe, se empolga, aceita mudar de endereço, sempre com a justificativa de que está apenas sendo educada. A motivação é manter acesso e provar que sabe navegar naquele ambiente. O obstáculo é que a leitura que os homens fazem de sua disposição não coincide com o que ela acha que está oferecendo, e o barulho das conversas aumenta a confusão. O efeito é que ela se torna peça de um jogo social em que elogio e interesse funcionam como laço.
Woody Allen e a cidade como labirinto
Woody Allen encadeia esses deslocamentos com cortes entre interiores elegantes e ruas molhadas, usando a chuva como medida de tempo e de humor. A informação chega sempre atrasada para alguém, e isso muda o sentido de cada decisão: Gatsby interpreta a ausência de Ashleigh como descaso; Ashleigh interpreta a insistência dele como controle. Ao cair da noite, Gatsby decide abandonar a ideia do fim de semana ideal e agir segundo o que aprendeu no próprio percurso. O obstáculo é que a escolha implica perda, porque manter a fantasia exige mentir e recuar, e admitir a verdade exige confronto. O efeito fica numa cena simples: chuva fina, um relógio marcando hora, e um jovem esperando alguém com a certeza de que a espera já mudou o que ele queria.
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