Desde os primeiros minutos, “A Guerra Final” deixa claro seu projeto narrativo: um mundo à beira do colapso sanitário, no qual o controle da doença se confunde com o controle político. John Wood, interpretado por Daniel Stisen, vive isolado após a perda da família e é forçado a retornar à violência quando Maria, personagem de Olga Kent, passa a ser caçada por forças militares. O discurso central é simples e pouco disfarçado: quem administra a cura governa a sobrevivência. A premissa poderia sustentar uma distopia de médio alcance, mas o roteiro opta por atalhos conceituais e explicações diretas, reduzindo a complexidade do universo que propõe.
A estrutura dramática se ancora em arquétipos antigos do cinema de ação. John Wood é o sobrevivente endurecido, quase desumanizado, que resolve conflitos com força bruta. O antagonista, Commander Stone, vivido por Daniel Nehme, representa a autoridade militar absolutista. A revelação de que ambos são irmãos tenta adicionar densidade emocional ao embate, mas surge tarde e sem preparo narrativo. Não há memória compartilhada, dilema moral ou tensão psicológica real entre eles. O conflito é funcional, não dramático. A violência substitui qualquer possibilidade de confronto ideológico mais elaborado.
Encenação da ação
A progressão dos confrontos segue uma lógica mecânica. John avança pela floresta enquanto soldados surgem em sequência previsível, apenas para serem eliminados. Não existe estratégia visível, nem adaptação do ambiente ao combate. A ação se repete até perder impacto. O uso de armaduras nos inimigos gera inconsistência: ora protegem, ora falham sem critério. A própria Maria, inicialmente retratada como alguém com treinamento limitado, passa a eliminar adversários com eficiência quase absoluta, sem que o roteiro construa essa transformação. O suspense desaparece porque o desfecho de cada confronto já está dado.
O ponto mais delicado do filme é a forma como articula sua alegoria. A perseguição aos “infectados”, o uso de máscaras pelos militares e a marcação corporal dos caçados evocam eventos históricos específicos de maneira direta demais. A ausência de distanciamento simbólico transforma a metáfora em afirmação literal. O filme não problematiza essas associações, apenas as utiliza como combustível emocional. O resultado não provoca reflexão; cristaliza posições.
★★★★★★★★★★






