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Candidato a melhor filme de 2025, ação com Brad Pitt e Javier Bardem está na Apple TV+ Divulgação / Warner Bros.

Candidato a melhor filme de 2025, ação com Brad Pitt e Javier Bardem está na Apple TV+

“F1” parte de uma premissa simples e funcional: o automobilismo de elite como um ambiente onde talento individual nunca basta. Sonny Hayes, vivido por Brad Pitt, retorna às pistas depois de anos afastado para integrar uma equipe à deriva e orientar Joshua Pearce, jovem piloto interpretado por Damson Idris. A missão é clara: recuperar competitividade em uma temporada que parece perdida. O roteiro não esconde seu desenho clássico, mas organiza essa estrutura com disciplina narrativa. Não há esforço para reinventar o gênero esportivo; há, sim, a intenção de depurá-lo, retirando excessos melodramáticos e concentrando a atenção na tensão entre experiência acumulada e impulso juvenil.

Máquina, corpo e decisão

O filme constrói sua força ao insistir que a Fórmula 1 não é apenas uma disputa de reflexos, mas um campo de decisões permanentes sob pressão extrema. Cada corrida se articula como uma sequência de escolhas que envolvem risco, cálculo e renúncia. Sonny Hayes não surge como mentor idealizado: seu corpo denuncia o tempo, suas atitudes revelam erros passados e sua relação com a equipe é atravessada por desconfiança. Brad Pitt sustenta o personagem com contenção, evitando gestos grandiosos. Joshua Pearce, por outro lado, representa o piloto moldado pela lógica contemporânea do espetáculo: rápido, confiante, midiático. Damson Idris compreende bem esse contraste e evita transformar o jovem talento em antagonista automático.

Conflito, hierarquia e desgaste

O embate central não se limita à pista. Ele se estende à hierarquia interna da equipe, às disputas por protagonismo e ao controle da narrativa pública. Kerry Condon interpreta a diretora técnica responsável por equilibrar interesses esportivos e sobrevivência institucional. Sua presença funciona como eixo racional em um ambiente onde cada decisão pode comprometer uma temporada inteira. O filme acerta ao tratar o automobilismo como um sistema coletivo, no qual a vitória individual depende de engrenagens humanas e técnicas frequentemente invisíveis ao público. Não há romantização do paddock; o que se vê é um espaço de desgaste contínuo.

Joseph Kosinski conduz o relato com atenção ao ritmo interno das corridas e ao intervalo entre elas. As sequências na pista não se acumulam por excesso, mas retornam como variações de um mesmo problema: até onde é possível insistir antes que o erro seja irreversível. Algumas situações obedecem a expectativas previsíveis, mas a encenação sustenta o interesse ao enfatizar consequência e não apenas impacto. O som dos motores, as comunicações por rádio e o isolamento dos pilotos reforçam a sensação de confinamento decisório.

Legado e permanência

“F1” não pretende converter todos em entusiastas do esporte, tampouco oferecer um tratado sobre superação pessoal. Seu alcance é mais controlado: observar como indivíduos lidam com a proximidade constante do fracasso em um ambiente que não admite hesitação prolongada. Sonny Hayes não busca redenção abstrata, mas encerramento. Joshua Pearce não aprende lições edificantes, e sim limites. O filme termina fiel a essa lógica, sugerindo que, na Fórmula 1, continuar já é uma forma de vitória — desde que se saiba o custo de cada volta.

Filme: F1
Diretor: Joseph Kosinski
Ano: 2025
Gênero: Ação/Drama/Esporte
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★