Todo mundo conhece Frank Sinatra, certo? O homem morreu em 1998, mas ainda hoje, quando se fala no nome dele, impossível encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar, escutado uma música, visto algum filme. Quando Sinatra adentrava um salão, todos viravam os olhares para ele. Ele era um símbolo da elegância, disciplina, talento e poder. Todas as mulheres o olhavam com desejo. Sempre com o terno ajustado e bem-passado, ele era a personificação do status. Um homem como todos os outros desejavam ser.
Quem diria que entre luzes suaves e ternos milimetricamente ajustados, rumores atravessavam a madrugada como uma fumaça de cigarro: o homem tinha um adversário. Não era um rival dos palcos e dos rádios, tampouco uma sombra do passado. Era alguém com quem ele cruzava nos corredores dos estúdios, compartilhava holofotes e dividia aplausos. Um inimigo irreconciliável que não empunhava armas, mas um charme inegável.
Tony Curtis era sorridente, carismático, cheio de histórias. Sua presença irritava Sinatra por motivos que ninguém ousava pronunciar. A disputa entre os dois pairava silenciosa. Sinatra não admitia concorrência em território emocional. Curtis não se dobrava diante de ninguém. O set de filmagem se transformou em uma arena de olhares cruzados, frases sussurradas pela metade e uma tensão que nunca explodiu. Ela apenas queimou lenta e silenciosamente, como brasa escondida sob cinzas frias.
A raiva, nunca teve ato inaugural. Ela simplesmente se instalou quieta e corrosiva como um câncer, como se cada gesto de Curtis fosse uma afronta a Sinatra. Já Curtis via cada silêncio do cantor como um ato de desprezo. A equipe, atenta, percebia que algo se morria de forma subterrânea, clandestina, como um rio que corre por debaixo da ponte em silêncio, mas arrasta pedras enormes em seu curso.
Alguns acreditavam que Sinatra achava que Curtis era uma beleza que o ameaçava porque não pedia licença para entrar no plano. Outros, que Curtis se irritava com o “ar de realeza“ do cantor. É capaz que ambos estivessem certos. Ou errados. O fato é que a inimizade nunca foi declarada por nenhum deles, nunca ganhou rosto público, mas existiu. Ela deixou marcas que não aparecem nas fotografias de bastidores, mas nos burburinhos sobre como um evitava a sala onde o outro estava. O silêncio soava mais alto que qualquer acorde musical.
Alguns adversários têm suas rixas publicadas em canções e em páginas de jornais. Não essa. A elegância condizente de Sinatra manteve suas emoções escondidas entre um intervalo de um take para o outro, no movimento mínimo de uma mão, na pausa incômoda antes de um diálogo. Talvez é aí que esteja seu fascínio: um conflito tão íntimo que só pode ser compreendido quando se ouve, muito de perto, o ruído invisível entre duas estrelas que não cabiam no mesmo céu.





