Google Arts & Culture é uma plataforma digital que reúne acervos de museus e instituições de memória de vários países em ambiente on-line. Criado em 2011 pelo Instituto Cultural do Google, o projeto oferece imagens em alta resolução de obras, documentos e objetos, além de visitas virtuais a espaços expositivos captadas com tecnologia semelhante ao Street View. A proposta declarada é tornar acervos físicos acessíveis pela internet e apoiar a preservação digital de coleções de difícil consulta presencial.
No Brasil, a participação de museus federais vinculados ao Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, é um dos eixos centrais dessa presença. Documentos oficiais listam como parceiros o Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu Lasar Segall, o Museu Imperial, os Museus Castro Maya, o Museu Villa-Lobos e o Museu da República. A adesão ocorre em paralelo a programas de “acervos online” coordenados pelo próprio Ibram e faz com que parte das coleções sob responsabilidade do Estado brasileiro circule em conjunto com instituições estrangeiras de grande porte.
Entre os casos mais estruturados está o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Informações do Ibram indicam que o museu disponibiliza no Google Arts & Culture mais de 3.300 obras em alta resolução, das quais cerca de 340 em super-resolução, permitindo ampliar a imagem a ponto de observar textura de tinta e detalhes de desenho. O acervo geral do museu, estimado em aproximadamente 70 mil itens, inclui pinturas, gravuras, esculturas, desenhos, objetos e documentos, e uma parte representativa desse conjunto compõe o recorte digital apresentado na plataforma.
O Museu Nacional de Belas Artes também utiliza o serviço para organizar exposições virtuais que agrupam obras em torno de temas específicos. Há mostras dedicadas às aquisições de acervo após 1940, percursos sobre a formação das coleções de arte africana e indígena, narrativas sobre representações de pessoas negras e projetos que abordam futebol e cultura visual. Em outra frente, o museu integra exposições com enfoque decolonial, discutindo modos de olhar para a história da arte a partir de outras perspectivas. Os roteiros combinam textos curatoriais e imagens ampliáveis, o que facilita o uso em atividades de ensino, mediação e pesquisa.
O Museu Histórico Nacional, também no Rio de Janeiro, aparece na plataforma como extensão digital de um acervo superior a 300 mil itens, composto por pinturas, esculturas, armaria, viaturas, porcelanas, prataria, moedas, documentos e uma biblioteca especializada. No Google Arts & Culture, o museu apresenta exposições virtuais sobre a formação do Estado brasileiro, iconografias da República e leituras críticas de narrativas oficiais. Imagens em alta definição, vistas internas do prédio e textos de contexto funcionam como ponto de partida para públicos que não têm acesso simples ao museu físico ou às publicações especializadas produzidas pela instituição.
Instalado no antigo Palácio do Catete, o Museu da República oferece um recorte mais concentrado. De acordo com informações do Ibram, a instituição disponibiliza na plataforma dezenas de imagens distribuídas em exposições virtuais como “Nosso Sagrado”, que aborda religiosidades de matriz africana e patrimônio, e mostras dedicadas às obras “Pátria”, de Pedro Bruno, e “Compromisso Constitucional”, de Aurélio de Figueiredo. Outro núcleo acompanha a transformação do palácio em museu, articulando história política, usos simbólicos do edifício e documentação visual produzida ao longo do século 20.
Em São Paulo, o Museu Lasar Segall mantém exposições virtuais estruturadas a partir de obras de seu acervo. As mostras destacam a produção do artista, o vínculo com a imigração judaica, o diálogo com a modernidade europeia e a inserção da casa-ateliê na vida cultural paulistana. A navegação combina vistas de salas expositivas, imagens de obras e documentos históricos, o que permite reconstruir, em camadas, tanto a trajetória de Lasar Segall quanto o processo de institucionalização do museu dedicado à sua obra.
O Museu Imperial, em Petrópolis, aparece principalmente por meio de tours em 360 graus que percorrem o antigo palácio da família imperial e suas galerias. O circuito virtual acompanha a exposição permanente, que apresenta uma fração do acervo museológico total em salas dedicadas à história nacional e ao cotidiano da corte. O visitante on-line pode observar detalhes de mobiliário, objetos pessoais, documentos e obras de arte que compõem a narrativa sobre o século 19, em diálogo com iniciativas próprias de digitalização realizadas pelo museu.
Os Museus Castro Maya, responsáveis pela Chácara do Céu e pelo Museu do Açude, apresentam na plataforma um recorte das coleções de Raymundo Ottoni de Castro Maya, com pinturas, gravuras, desenhos e objetos de arte luso-brasileira e oriental. Exposições virtuais e obras isoladas permitem ao público ter uma visão sintética do acervo desses dois museus cariocas.
O Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, concentra sua participação em exposições sobre a vida e a obra do compositor, reunindo fotografias, partituras e registros de arquivo. A plataforma também hospeda projetos brasileiros fora da rede do Ibram, entre eles o Museu Nacional do Rio de Janeiro, que, após o incêndio de 2018, ganhou tour virtual pelo prédio histórico e exposições on-line com peças emblemáticas, como o crânio de Luzia.
Tomados em conjunto, esses exemplos mostram o Google Arts & Culture, no Brasil, como vitrine estruturada para obras e exposições de museus públicos. A plataforma não substitui os acervos físicos nem reproduz sua totalidade, mas organiza recortes que esclarecem o perfil de cada instituição, sugerem percursos temáticos e tornam parte do patrimônio preservado pelo Estado acessível em um único endereço on-line.
