Amores podem ser como perfumes, que evolam sem que se perceba, embora sempre deixem seu rastro de olores ora adocicados, ora cítricos, quase azedos; podem tingir-se de cores, luminosas feito o sol numa tarde de verão, ou tão lúgubres e escuras que tingem de morte o que deveria constituir um lembrete de que a vida tem graça. Dois corações outrora afinados podem perder-se, cada qual no seu novo ritmo, acusando os caprichos do tempo, esse tirano que esfacela certezas e grita duras verdades. Entretanto, se um amor teve um dia a coragem de vencer a imensa muralha das impossibilidades e fazer-se concreto, permanece, ainda que sob o véu da monstruosa dúvida, a chance do milagrosamente belo recomeço. “Nossa História de Amor” vibra nessa frequência, incansável, como se quisesse convencer o espectador da força do mais humano dos sentimentos. Como numa típica produção Hallmark, o diretor Scott Smith acha uma maneira de elaborar arcos dramáticos com suavidade, e tira todo proveito que consegue de seus atores, afinados e bonitos. Dá certo.
Jamie Vaughn não precisa de nada além de Amor Verdadeiro, sua livraria, a mais completa de toda a fictícia e aconchegante Waterford. Ela recomenda leituras ao gosto do freguês, tratando de desfazer enganos e não deixar que um conhecido iluda-se com “A Casa da Alegria” (1905), de Edith Wharton (1862-1937). Tudo seguiria como ouro sobre azul, pensava ela, até que Lucy, sua melhor amiga e gerente, conta sobre um empreendimento imobiliário que promete sacudir as estruturas do pequeno comércio de Waterford. O engenheiro Sawyer O’Dell volta a sua cidade natal incumbido da missão de fazer com que os lojistas vendam seus imóveis para a incorporadora que representa, e talvez até tivesse sucesso imediato, não fosse por um detalhe: ele e a livreira já foram namorados, deram um fim ao relacionamento de modo abrupto e traumático e ainda têm contas a ajustar.
As roteiristas Tracy Andreen e Deborah Jones alongam a narrativa com subtramas a exemplo do outro casal do filme, Lucy e Rick, também enredado em mal-entendidos e tergiversações que só adiam o que todos veem, exceto eles, e Zibby Allen e Marco Grazzini são persuasivos nas trapalhadas anti-românticas que oferecem um saboroso contraponto ao enrosco dos protagonistas. Allen rouba a cena com os perspicazes conselhos para a chefe-confidente sem, todavia, aceitar o óbvio, e todos esses são elementos usados por Smith a fim de cristalizar para o público a imagem ambivalente de Jamie e Sawyer juntos. Uma sequência no pátio da Amor Verdadeiro, onde uma árvore centenária os observa, já vale os 84 minutos, e Maggie Lawson e Sam Page mantêm-se coesos, fazendo com que acreditemos que seus personagens foram feitos um para o outro. Jamie e Sawyer devem ter sido felizes para sempre, sim.
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