Filme explosivo com Morgan Freeman e Mark Ruffalo, que lotou salas de cinema, agora disponível no Prime Video Divulgação / Summit Entertainment

Filme explosivo com Morgan Freeman e Mark Ruffalo, que lotou salas de cinema, agora disponível no Prime Video

É curioso observar como “Truque de Mestre” tenta seduzir o espectador pela via do encantamento imediato, mas acaba escorregando em uma lógica de espetáculo que se sustenta mais na velocidade do que na consistência. O filme aposta na ideia de que, se a narrativa correr rápido o suficiente, ninguém terá tempo para notar os vazios que se acumulam entre uma reviravolta e outra. A estratégia funciona por alguns minutos, mas não oferece solidez para quem espera algo além de truques sucessivos embalados por frases de efeito. O ritmo frenético não esconde a fragilidade, apenas a posterga.

O enredo parte de uma premissa simples: um grupo de ilusionistas unidos por um propósito que combina senso de justiça, vaidade e a promessa de um plano maior. A história até flerta com temas interessantes, como manipulação coletiva e a facilidade com que se constrói uma narrativa convincente quando se oferece ao público um inimigo comum. No entanto, essa reflexão permanece à margem, substituída por um conjunto de acontecimentos que prioriza o impacto imediato, sacrificando o aprofundamento. A trama se dá por satisfeita cada vez que produz um efeito surpresa, como se o deslumbramento momentâneo bastasse para sustentar o todo.

A condução dos personagens segue a mesma lógica. Cada integrante do grupo é apresentado como alguém dotado de uma habilidade singular, mas o filme não demonstra interesse real em explorar o que essas características poderiam gerar em termos de conflito interno, escolhas éticas ou visão de mundo. As motivações mudam sem aviso e os comportamentos se moldam à conveniência da cena. Há uma distância clara entre o que se propõe e o que se desenvolve, como se a psicologia dos personagens fosse apenas um adereço descartável. Em vez de coerência, prevalece a funcionalidade.

Essa mesma fragilidade aparece nos arcos paralelos, que surgem e desaparecem com rapidez. Alguns diálogos existem apenas para lembrar o espectador de que há uma explicação por trás do truque, mas a explicação nunca chega de fato. O resultado é uma narrativa que parece sempre escapar do próprio raciocínio, acumulando elipses e atalhos. O filme constrói uma teia que promete complexidade, mas a complexidade se desfaz quando examinada de perto. O encantamento se mantém enquanto não se questiona, e talvez essa seja a intenção: impedir o questionamento por meio da sucessão constante de estímulos.

Há também o problema da verossimilhança. Em vários momentos, “Truque de Mestre” aposta em acontecimentos que ultrapassam qualquer limite do plausível. Não é uma questão de exigir realismo absoluto, mas de preservar certa lógica interna. Quando cada obstáculo é contornado por soluções que dispensam explicação, o filme passa a depender do benefício da dúvida do espectador. Essa dependência se amplia a tal ponto que a história deixa de dialogar com o público e passa a pedir apenas condescendência. O ilusionismo, que poderia servir como metáfora poderosa sobre percepção e crença, é reduzido a um dispositivo narrativo que se repete até perder força.

Mesmo assim, há um elemento que sustenta parte da experiência: o dinamismo visual e sonoro, pensado para manter a atenção fixa. As cenas de espetáculo funcionam como um artifício eficiente para criar impressão de grandiosidade, e a trilha sonora se encarrega de reforçar a sensação de urgência contínua. Esse tipo de recurso não resolve os problemas estruturais do filme, mas contribui para que o público o acompanhe sem desgaste, desde que não espere densidade. Para quem busca apenas movimento e brilho, a entrega é razoavelmente satisfatória.

A questão principal é que “Truque de Mestre” poderia ir além. Em vez de se apoiar na repetição de surpresas calculadas, havia espaço para incentivar uma leitura mais ampla sobre controle, confiança, narrativa pública e a própria ilusão como linguagem. O filme escolhe não explorar essas dimensões e, ao fazê-lo, limita a própria ambição. O espetáculo permanece, mas a reflexão não se consolida.

Talvez seja justamente essa ausência de ambição que explique sua recepção dividida. Há quem se contente com o ritmo veloz e a sucessão de truques bem coreografados, e há quem perceba que, por trás do brilho, existe apenas o contorno de algo que poderia ter sido mais incisivo. A sensação final é a de uma promessa feita em voz alta, mas cumprida apenas pela metade.

Filme: Truque de Mestre 2
Diretor: Jon M. Chu
Ano: 2016
Gênero: Ação/Aventura/Comédia/Crime/Mistério/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.