O filme número 1 do Prime Video foi feito para você desligar o cérebro e só rir Divulgação / Amazon Prime Video

O filme número 1 do Prime Video foi feito para você desligar o cérebro e só rir

Brian é um contador recém-demitido que tenta reorganizar a vida depois de perder o emprego e o status de provedor principal da família. Em casa, passa a conviver mais de perto com o enteado Lucas, circulando por parquinhos, reuniões escolares e grupos de mensagens de pais que já parecem ter decorado o manual da rotina suburbana. A oportunidade de aproximar-se desse universo aparece quando ele recebe o convite para passar uma tarde com Jeff, vizinho carismático e forte, responsável por outro garoto da escola, em um encontro que promete apenas lanches, conversa leve e alguma bola de futebol americano no gramado.

É esse cenário aparentemente banal que “Um Dia Fora de Controle”, dirigido por Luke Greenfield e estrelado por Kevin James e Alan Ritchson, escolhe para disparar a mistura de comédia e ação. O filme acompanha a dupla de pais quando, em vez de uma tarde pacífica com as crianças, eles se veem perseguidos por mercenários e obrigados a fugir sem saber direito quem os quer ver mortos e por qual motivo. Enquanto Brian tenta apenas manter todos vivos e relativamente calmos, Jeff reage com uma eficiência suspeita, o que levanta a dúvida sobre qual é, de fato, sua história antes da vizinhança tranquila.

A dinâmica entre os dois protagonistas define o ritmo da narrativa. Brian representa o homem comum, acostumado a planilhas, escritório e regras claras, de repente jogado em um cenário de risco real, em que precisa tomar decisões sob pressão. Kevin James explora a insegurança do personagem em gestos, hesitações e olhares que alternam medo e surpresa. Jeff, vivido por Alan Ritchson, parece sempre pronto para o confronto, conhece os atalhos, improvisa armas e rotas, reage com precisão física, reforçando o contraste entre pai de rotina doméstica e figura treinada para situações extremas. O encontro dessas duas formas de agir sustenta boa parte do humor e da tensão.

Ao longo do filme, a ação se desloca por ruas residenciais, casas cuidadosamente decoradas, estradas e espaços de lazer pensados para famílias. Greenfield transforma minivans em veículos de fuga, quintais em zonas de combate improvisado e festas infantis em pontos de virada da perseguição. A graça nasce da logística impossível de cuidar de crianças enquanto se tenta escapar de criminosos armados. Em várias sequências, os personagens aparecem divididos entre colocar cinto de segurança, acalmar os pequenos no banco de trás e evitar colisões em alta velocidade, o que reforça o choque entre o cotidiano domesticado e o caos que invade essa rotina.

A comédia se apoia tanto em piadas de diálogo quanto em humor físico. Brian tropeça, derruba objetos, se enrola com mochilas e cadeirinhas, enquanto Jeff administra a situação com um tipo diferente de exagero, sempre um pouco acima da calma esperada, como se estivesse habituado a outra vida. Em alguns momentos, o filme parece retomar o espírito de produções clássicas de “buddy movie”, em que dois opostos precisam aprender a cooperar, mas traz como diferencial o fato de que, aqui, os filhos funcionam como observadores privilegiados, atentos a cada deslize e a cada acerto dos adultos.

No campo da ação, “Um Dia Fora de Controle” privilegia a clareza dos movimentos. As perseguições de carro permitem entender quem corre atrás de quem, em que direção e com quais obstáculos. As lutas físicas exploram o contraste entre um corpo claramente destreinado e outro em plena forma, sem recorrer a violência gráfica. Em vez de cenas marcadas apenas pela destruição, o filme insiste em pequenos detalhes que ancoram a sequência em objetos do dia a dia: um bolo que vai ao chão, um brinquedo usado como ferramenta inesperada, uma cozinha que se transforma em labirinto de improviso. Esses elementos tornam as cenas reconhecíveis para quem conhece a rotina doméstica, mesmo quando o contexto é absurdo.

O roteiro, assinado por Neil Goldman, introduz uma camada emocional ao longo da fuga. Durante paradas rápidas ou momentos em que conseguem se esconder por instantes, os personagens discutem erros passados, expectativas em relação à paternidade e o peso de não corresponder a modelos prontos de sucesso e coragem. Brian fala de sua dificuldade em se enxergar como figura de referência depois da demissão. Jeff deixa escapar sinais de que já viveu situações semelhantes antes, o que coloca sob outra luz o modo como lida com o perigo. Essas conversas, ainda que breves, aproveitam o intervalo entre corridas e confrontos para lembrar que a aventura é também um teste silencioso de autoestima.

O elenco de apoio reforça essa leitura ao material. As presenças de Sarah Chalke e Isla Fisher, por exemplo, ampliam o olhar para além dos dois protagonistas, mostrando como parceiras e familiares reagem à notícia de que uma simples tarde com os filhos se transformou em algo que foge a qualquer previsão. Não se trata de personagens com arcos independentes bem delineados, mas de pontos de ancoragem que lembram que, fora da trama de perseguição, há uma casa, uma escola e uma comunidade que terão de lidar com as consequências daquele dia.

Do ponto de vista visual, a fotografia aposta em cores que valorizam o subúrbio bem cuidado, com gramados simétricos, ruas limpas e interiores organizados, para então contrastar esse cenário com o rastro de destruição que as ações da dupla deixam pelo caminho. Carros amassados, portões quebrados e salas reviradas funcionam como sinais concretos de que algo anormal passou por ali, mesmo quando o filme prefere tratar a situação com leveza. A montagem alterna planos abertos, que ajudam a entender a geografia das cenas de ação, e close-ups usados para registrar o cansaço crescente nos rostos dos personagens.

Ao evitar violência gráfica e focar em situações absurdas, “Um Dia Fora de Controle” se posiciona como comédia de ação acessível a diferentes públicos, sem perder o ritmo de filme de perseguição. O humor nasce menos de piadas pontuais e mais da insistência em mostrar dois pais tentando cumprir obrigações básicas enquanto atravessam algo que, em outras narrativas, seria reservado a policiais, espiões ou criminosos profissionais. Essa escolha direciona o olhar para a figura do pai suburbano contemporâneo, dividido entre expectativas de desempenho perfeito e a realidade de decisões improvisadas.

No desfecho, quando Brian e Jeff surgem espremidos no carro sujo, rodeados de brinquedos espalhados e crianças exaustas no banco de trás, “Um Dia Fora de Controle” condensa em uma única imagem a mistura de caos e responsabilidade que guiou o filme inteiro, com os protagonistas ainda tentando recuperar o fôlego antes da próxima demanda familiar.

Filme: Um Dia Fora de Controle
Diretor: Luke Greenfield
Ano: 2025
Gênero: Ação/Comédia
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★