Ser um ou uma adolescente é um misto de emoções. É a fase mais perturbadora da vida, mas também a mais emocionante. A descoberta do corpo, da autonomia, da independência e das responsabilidades. É quando estamos prontos para criar uma imagem nossa diante do mundo. Pertencer a algum grupo, se encaixar e se sentir acolhido são algumas das coisas mais importantes para um adolescente, mas, quando se é diferente por algum motivo, é aí que as inseguranças batem. E elas batem com força, porque as nossas emoções estão completamente à flor da pele e tudo no mundo, principalmente os problemas, parece triplicar de tamanho.
Em “Diário da Minha Vagina”, traumédia escrita e dirigida por Molly McGlynn, acompanhamos a adolescente Lindy (Maddie Ziegler), de 16 anos, que nunca menstruou. Embora a situação seja inusitada, não parece alarmante. Afinal, o corpo ainda está em processo de amadurecimento. No entanto, Lindy descobre que tem uma síndrome rara e pouco conhecida chamada MRKH, uma condição que fez com que ela nascesse sem útero e sem canal vaginal. A descoberta só veio agora, justamente durante o despertar de sua sexualidade e o interesse romântico em Adam (D’Pharaoh Woon-A-Tai).
Obviamente, a condição traz diversos transtornos físicos e, principalmente, emocionais. Lindy nunca vai menstruar, não pode ter filhos e, ainda, não pode fazer sexo, a menos que exercite sua musculatura vaginal para que aumente de tamanho ou passe por um procedimento cirúrgico. São muitas informações para a adolescente que só queria se desenvolver normalmente, como todas as outras garotas de sua idade e, naturalmente, compartilhar essa notícia com qualquer pessoa que seja, principalmente com Adam, não é nada simples ou fácil. Vivendo um dos momentos mais devastadores de sua vida, Lindy, com vergonha de seu diagnóstico, começa a afastar as pessoas, incluindo sua melhor amiga, Viv (Djouliet Amara).
Durante sua crise existencial, Lindy esconde sua condição e se aproxima de Jax (Ki Griffin), uma jovem intersexo, que a permite explorar sua sexualidade além da heteronormatividade. A trama também explora a relação de Lindy com sua mãe, Rita (Emily Hampshire), em que há momentos de vulnerabilidade, tensão e compreensão. Afinal, Rita perdeu a mama devido a um câncer e ambas compartilham a ausência de algo que a sociedade acredita ser definidor da feminilidade.
“Diário da Minha Vagina” é uma história semiautobiográfica, inspirada na condição fisiológica da própria diretora. Uma das maiores preocupações de McGlynn foi não transformar cenas íntimas e médicas em voyeurísticas. Por isso, durante esses momentos, a câmera foca nos rostos dos personagens para capturar expressões e emoções, sem expor partes do corpo. Apesar das críticas mistas, McGlynn consegue relatar seu trauma de forma leve, mas sem ser superficial. Na medida certa para falar com um adolescente e fazê-lo se sentir acolhido.
★★★★★★★★★★