Acaba de chegar à Netflix o filme que vai te fazer gargalhar por 100 minutos neste final de semana Divulgação / Warner Bros.

Acaba de chegar à Netflix o filme que vai te fazer gargalhar por 100 minutos neste final de semana

O casamento deve ser a instituição falida mais invejada do mundo. As estatísticas acerca de infelicidade conjugal, traições e divórcios revelam que o “até que a morte os separe” quase nunca se concretiza. Assim mesmo, o matrimônio permanece como o símbolo máximo do amor. Casais publicam fotos em que aparecem sorridentes, as alianças cintilam, estralam os beijos e perdura a fantasia de um romance que desafia a eternidade. Para quem está de fora, o casamento parece a coroação de um sonho. Para o marido e a mulher, contudo, uma relação pode ser um palco de silêncios torturantes, desgaste físico e renúncias a contrapelo. A imensa coação social que envolve tudo quanto diga respeito à união entre dois adultos não arrefece e sua aura mística atravessa os tempos, não obstante o malogro jamais deixe de ser uma possibilidade. Essa contradição é decerto aquilo que fascina os apaixonados, como se assiste, guardadas as devidas proporções, em “Se Beber, Não Case!”, o esmerado besteirol de Todd Phillips. O roteiro de Jon Lucas e Scott Moore é pródigo em cenas engraçadas, situações absurdas, personagens verossímeis em sua insânia, minúcias que deram ao longa o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia em 2010.

Após uma festa de despedida de solteiro, Doug, Phil, Stu e Alan somem sem deixar rastro. Doug, o noivo, claro, é quem motiva a apreensão geral, embora os outros três marmanjos irresponsáveis que protagonizam a história não deem um alívio. Phil, Stu e Alan aparecem, sem Doug, no deserto de Mojave, na divisa de Nevada com a Califórnia, e então o professor Phil decide que é hora de ligar para Tracy, a prometida de Doug, e contar o que está havendo. O diretor volta dois dias para explicar que eles deslocaram-se para Las Vegas a fim de aproveitar os últimos momentos de liberdade do amigo, mas as coisas saíram do controle enquanto eles encharcavam-se daquele famoso licor de ervas alemão no terraço de um hotel de luxo da Cidade do Pecado. É o gancho perfeito para que Phillips mostre o quarteto numa suíte de cinco mil dólares, onde acordam rodeados por um tigre, uma galinha e um bebê aos berros. O dentista Stu está sem um dos incisivos da arcada superior, e uma mistura de nonsense e escatologia vai se disseminando. Quando fecham a conta, o manobrista lhes devolve uma viatura da polícia, e o noivo permanece desaparecido.

Essa longa jornada noite adentro inclui encontrar um mafioso chinês, conhecer uma prostituta que sabe o que quer, um médico infeliz e Mike Tyson, o dono do felino — mas a galinha e o bebê ainda são um mistério. Phil, Stu e Alan padecem de um transtorno de personalidade, mas Alan é dos três o mais louco, ainda que os chiliques de Stu, encorajados pela namorada rabugenta, deem nos nervos. Justin Bartha, Bradley Cooper e Ed Helms garantem que o público fique cada vez interessado em como vão acabar as trapalhadas anticonjugais dos amigos, mas Zach Galifianakis é quem rouba a cena. Galifianakis subverte o estereótipo do sujeito gordo, parrudo, falastrão, desajustado e carente, trazendo à superfície o lado verdadeiramente humano de Alan. Há uma comicidade muito específica em cada gesto seu, levada para o leito do que é contado. Efeito que não se repete nas outras duas produções da franquia.

Filme: Se Beber, Não Case!
Diretor: Todd Phillips
Ano: 2009
Gênero: Aventura/Comédia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.