A Influencer, o Bacon e os Dez Mil Platôs: o experimento filosófico de Rafa Kahliman

A Influencer, o Bacon e os Dez Mil Platôs: o experimento filosófico de Rafa Kahliman

Eu posso não concordar com o que você ri, mas defenderei até a morte o seu direito de rí-lo. Entretanto, é preciso separar o riso do parvo do riso do sábio. E não se enganem pela bela aparência, Rafa Kahliman é mais sábia do que parece.

Recentemente o mundo mais profundo do universo literário estremeceu. Enquanto acontecia a Feira Literária de Paraty, a atenção dos booktokers se voltou para o caso de Rafa Kahliman, que usou uma verdadeira cortina de fumaça inversa, comprando uma quantidade impressionante de livros de uma vez. O valor do montante ficou em torno de dez mil reais, o que dá quase seis livros de decoração, que são realmente muito caros. Isso acaba dando um respiro de liberdade para as editoras que muitas vezes nunca tinham encontrado algum cliente com poder aquisitivo para seus livros. Como cereja do bolo, ao mostrar seus recentes achados da categoria gastronômica, ela colocou um intruso na pilha, o livro “A Beleza da Carne”, de Francis Bacon, um catálogo lançado pelo MASP. Perceba que a intencionalidade vai se delineando. Não foi qualquer um, foi um empirista, um dos fundadores da ciência moderna, autor do “Novo Organon” que é a atualização da lógica aristotélica. Se não é a gastronomia uma arte que evoluiu de forma empírica antes que o método científico sequer sonhasse em existir.

E nisso, vai nascendo o desejo de superá-la, de vencer na corrida da leitura. A fome de conhecimento deixa a carne entre os dentes como os sustenidos do piano. Um experimento não planejado que vai crescendo no espinheiro dos pensamentos tal bactérias numa placa de Petri. Ou como uma batata.

Citando Deleuze em “Diferença e Repetição”: “Se a repetição é possível, ela o é tanto contra a lei moral quanto contra a lei da natureza. São conhecidas duas maneiras de subverter a lei moral. Seja por uma ascensão aos princípios, contestando-se, então, a ordem da lei como secundária, derivada, emprestada, ‘geral’, denunciando-se na lei um princípio de segunda mão, que desvia uma força ou usurpa uma potência originais. Seja, ao contrário, e neste caso a lei é ainda melhor subvertida, por uma descida às consequências e uma submissão minuciosa demais; à força de aderir à lei, uma alma falsamente submissa chega a contorná-la e a provar os prazeres que ela deveria proibir […] A primeira maneira de subverter a lei é irônica, e a ironia aí aparecendo como uma arte dos princípios, da ascensão aos princípios e da subversão dos princípios. A segunda é o humor, que é uma arte das consequências e das descidas, das suspensões e das quedas”.

Não pense que nós não vimos quando você postou foto de vestido branco bufante, sentada sobre os calcanhares calçando dois elegantes sapatos se salto azuis, também não por acaso dentro de um closet, em 2021, com frase dos “mil platôs”: “Os afetos atravessam o corpo como flechas, são armas de guerra”.

Você foi descoberta, Rafa Kahliman. Ria por último dessa vez, mas na próxima estaremos preparados para seus joguetes meta modernos. E parabéns pelos seus 10 mil platôs.