7 livros que poderiam estar na estante invisível de Elena Ferrante

7 livros que poderiam estar na estante invisível de Elena Ferrante

Há livros que se impõem pelo impacto; outros, pelo ruído. Mas há também aqueles que se alojam devagar, com a delicadeza desconfortável de uma lembrança que não se pode nomear com exatidão. São os livros que se parecem menos com voz e mais com escuta. Livros que não tentam seduzir nem convencer. Apenas existem, como se sua presença já fosse suficiente. No caso de Elena Ferrante, cuja ausência pública tornou-se marca registrada, essa ideia de literatura como presença impessoal ou íntima demais para ser revelada faz parte da própria tessitura de sua escrita. Ferrante escreve como quem entra numa casa abandonada e registra as rachaduras com a ponta dos dedos. A sua literatura não grita, mas também não se cala. Está entre o desespero e o recato, entre a fúria e a recusa da exposição. Nesse intervalo difícil de sustentar, sua linguagem encontra potência. E por isso talvez seja mais produtivo pensar não em quem a influenciou, mas em quem compartilha desse território.

Mulheres que escreveram com a mesma urgência surda, com o mesmo tipo de fôlego entrecortado, com a mesma recusa ao espetáculo. É possível que Ferrante tenha lido todas elas. É possível que não. Mas ao abrir páginas de Sylvia Plath, Clarice Lispector, Annie Ernaux, Marguerite Duras, Natalia Ginzburg, Charlotte Brontë e Isabel Allende, há um reconhecimento que dispensa comprovação. As protagonistas desses livros não são heroínas. Tampouco vítimas. São mulheres atravessadas por camadas históricas, sociais, íntimas, quase sempre invisíveis à narrativa tradicional. São filhas, amantes, mães, escritoras, órfãs, fantasmas. E, sobretudo, são vozes que não pedem validação. O que essas obras oferecem, mais do que qualquer genealogia literária, é um mapa emocional de um tipo específico de escrita. Uma que fala por dentro, sem pedir licença. Nesse sentido, não é exagero imaginar que tais livros ocupem um espaço simbólico, uma estante invisível, onde se guardam aquelas obras que nos ensinaram algo sem que a gente soubesse, à época, que estava aprendendo. E que, por isso mesmo, permanecem. Porque certas vozes não precisam ser ouvidas para continuar falando.

Revista Bula

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