4 romances insólitos, brilhantes e hilários de Juan Pablo Villalobos que valem cada milésimo de segundo do seu tempo

4 romances insólitos, brilhantes e hilários de Juan Pablo Villalobos que valem cada milésimo de segundo do seu tempo

Há escritores que inventam mundos. E há os que reorganizam o nosso, torcendo suas engrenagens até que tudo, enfim, revele o quão frágil, ilógico e tragicômico é o que sempre tomamos por normal. Juan Pablo Villalobos não escreve realismo mágico, tampouco realismo puro. Sua literatura habita aquele terreno desconfortável onde o absurdo é rotina e o humor, uma arma contra o desespero. Em suas páginas, o tráfico de drogas pode ser narrado por uma criança que sonha com um hipopótamo anão. Um velho rabugento pode travar batalhas existenciais com o síndico de um prédio decadente. Escritores falidos podem abrir salões de beleza. E a paranoia pode parecer mais sensata que a vida acadêmica.

Nada é gratuito, nem as risadas. Cada gesto ridículo carrega um acerto de contas com o poder. Cada silêncio esconde uma crítica ao sistema que nos entorpece. Villalobos não denuncia com discursos. Ele constrange com sutileza. Seus personagens não são heróis nem mártires. São corpos deslocados, vozes cansadas, figuras que tentam manter alguma coerência num mundo que já desistiu dela. Mas ao invés de dramatizar, ele opta pelo riso. Um riso desconcertado, de canto de boca, desses que nos fazem perguntar se devíamos mesmo estar achando graça.

A graça está justamente aí, na forma como ele nos obriga a rir de um sistema que, no fundo, só funciona porque fingimos levá-lo a sério. Os romances de Villalobos não são apenas engraçados. São precisos. Há método na loucura. Há intenção na desordem. E há beleza, também, mesmo que instável, no modo como ele transforma o fracasso em estilo e a frustração em matéria-prima literária. O que resta depois da gargalhada é uma espécie de sobriedade amarga, como se, por alguns segundos, tivéssemos visto com nitidez algo que normalmente evitamos encarar. Isso, eu acho, já é literatura.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.