5 livros brasileiros que deveriam ser leitura obrigatória

5 livros brasileiros que deveriam ser leitura obrigatória

A literatura brasileira, ao contrário do que fazem crer seus manuais, raramente foi cordial. O que ela tem de mais vivo está nos desvios, nos livros que não pedem licença nem fazem pose de cânone. É nesses lugares que mora a força bruta do gesto narrativo, não o que adestra a linguagem, mas o que a desvia, a contamina, a quebra. E há livros assim, que não se ocupam em provar nada, mas acabam dizendo tudo. São obras que não se preocupam em ensinar, mas talvez por isso deixam marcas.

É o caso de uma mulher que, num hospital psiquiátrico, recorda que já foi esposa de Salomão. A mais feia, a mais lúcida, a única alfabetizada. E por isso mesmo, a única capaz de escrever aquilo que tantos tentaram, a própria origem do mundo. Não importa se é delírio ou reencarnação; importa que sua voz, afinal, escreve.

Ou daqueles cinco homens envelhecidos que narram, com frieza, desespero e riso curto, os rastros que deixaram para trás. Cada um deles é uma espécie de cadáver precoce, não exatamente por estar morto, mas por já ter parado de viver há muito tempo.

Há ainda o operário e o estoquista que, ao se cansarem da precariedade diária, decidem abastecer a cidade por outro caminho. Trocam crachá por risco, rotina por ilegalidade. Não por heroísmo, mas por cálculo. Porque, às vezes, é só isso. Sobreviver de maneira lúcida já é subversão.

E há Lúcia, que um dia foi diagnosticada como enervada. Não pela medicina, mas pela fúria surda de quem pensa demais, deseja demais, respira de forma errada num mundo que exige silêncio feminino. Lúcia quer sentir. E sentir, ali, já era insubordinação.

Por fim, o caos. Um romance sem centro, sem protagonista, sem ordem. Vozes que atravessam vitrines, outdoors, palcos, calçadas. Uma explosão de ruído e colagem. Literatura como happening, gesto político, invenção anárquica da forma. Nem leitura. Experiência.

Juntos, esses livros não têm lição. Mas carregam algo mais poderoso. O direito de dizer que o mundo, esse aí, tão domesticado, ainda pode ser reimaginado.